A inteligência artificial (IA) chegou para facilitar as nossas vidas. Isto é um fato consumado e que não dará ré.
Gradualmente tenho me familiarizado com as ferramentas que surgem na velocidade da luz, tornando todos que a encontram, aparentemente, um pouco mais sábios, afinal podemos fazer um texto como este, coloquial e descontraído, tomar uma forma mais rebuscada em apenas um clique e 10 segundos.
Veja:
“A inteligência artificial chegou para simplificar e aprimorar nossa rotina. Esse é um fato irrevogável e irreversível. Gradualmente, tenho me familiarizado com as ferramentas que surgem em ritmo acelerado, concedendo a todos que as utilizam uma aparência de maior erudição. Afinal, podemos transformar um texto coloquial e descontraído como este em uma forma mais elaborada e sofisticada com apenas um clique e em questão de segundos.” (Criado pelo ChatGPT).
Acho incrível poder vivenciar aquilo que na minha infância parecia um sonho distante: ter uma robô limpando a casa como no desenho “Os Jetsons”.
Este pensamento vem a mim ao mesmo momento em que faço buscas pelo melhor preço do desejado aspirador robô em algum site que por causa do algoritmo rouba meus desejos na internet e por isto irá me apresentar modelos de aspiradores por um longo tempo em cada lugar que eu andar nos meus eletrônicos.
No mesmo instante eu também folheio as páginas amareladas de um livro com cheio de antigo.
Como sinto prazer em tirar um livro da estante e ler algumas páginas. Definitivamente, eu não nasci para ler livros digitais.
Me pergunto: será que os livros impressos vão virar memória de um passado da humanidade? Ou será que a minha resistência e a sua também, apaixonada por cheiro de páginas de livros, vai ser a força propulsora para manter no mercado algo tão “ultrapassado”?
Talvez a sociedade nem deseje num futuro próximo conhecer histórias escritas por humanos, afinal a IA contará histórias de forma mais rápida e rebuscada. Esta busca por velocidade, tendência que estamos vivenciando já há algum tempo, faz com que, numa espécie de contradição estranha, o tempo se expanda em velocidade arrastada no crochê manual feito no sofá de casa, ao som dos pássaros na rua numa manhã de sábado chuvosa, como hoje, dia em que estou escrevendo este texto.
Eu não faço crochê, nem tricô, nem pinturas. Poderia dizer que não sou boa em trabalhos manuais, mas estaria mentindo. Penso que deve ser a tal falta de tempo que me impede.
Amo pesquisar sobre as tendências, faz parte do meu trabalho como consultora e mentora de imagem pessoal. A moda é o local nos quais as tendências se apresentam de maneira silenciosa, e como poucos reparam, as tendências podem passar despercebidas aos olhos dos desavisados.
Os pesquisadores de tendências costumam dizer que uma tendência se baseia no espírito da época. E olha que intrigante observar como, apesar das “IAs” invadirem a nossa vida e robotizarem atividades até então apenas humanas, não são os tecidos tecnológicos que estão em evidência, muito menos os metais, que nos lembram destes mesmos robôs da tecnologia. A moda propõe um verdadeiro respiro a tudo isso, trazendo a sensação de um abraço humano à imagem pessoal.
O artesanal, o feito à mão, o natural, o humano. São estes os elementos que veremos nas vitrines de todas as lojas. Bem verdade que nem sempre será artesanal de fato.
Talvez o tricô não seja tricotado pelas mãos no sofá de casa, mas sim por algum maquinário moderno, mas a sensação de quem compra e usa é de estar vestindo uma roupa que abraça, acolhe e aquece o coração.
A moda é o melhor local para entender o comportamento humano, nem precisamos estudar antropologia ou psicologia. Basta observar.
Se você é minimamente observador, já deve ter percebido que a cor amarelo manteiga é a cor deste verão. Uma cor clara, calma, leve, suave e quentinha, assim como o pãozinho na chapa com manteiga derretida que aquece o coração já com o cheirinho que fica no ar.
Deve ter observado que os materiais artesanais invadiram sapatos, bolsas, cintos, brincos e artigos de decoração também. Crochê, tricô, palha, juta, algodão e linho nos conectam com a natureza, trazendo aconchego, tranquilidade, naturalidade, quase como se andássemos de pés descalços pela grama úmida.
Ou talvez você até já tenha comprado alguma blusa em renda, que deixará a sua pele mais à mostra, mostrando quem você é e como você está, sem os filtros das redes sociais. Onde nos mostramos sem medo e sem excessos, afinal estamos exaustos de excessos tecnológicos. Por isto, buscamos uma forma de naturalidade. Diminuímos a maquiagem, retiramos os cílios postiços, aceitamos os pelos na pele, nos acostumamos com as rugas que insistem em existir enquanto amamos celebrar os anos de vida e vão assumindo seu papel junto aos cabelos grisalhos, nos mostrando que somos humanos e não artificiais como as inteligências que surgirão facilitando muitos pontos da nossa existência, mas nos comprovando que apesar de todas as possibilidades tecnológicas, são as humanidades que dominam os nossos corações e promovem aconchego.
Entender o espírito da época é uma maneira de compreender que a tendência atual é humanizar.
Arrisco dizer que o próximo passo é querermos mais encontros olho no olho, apertos de mão, aulas presenciais com café quentinho no intervalo e passado no coador de pano, com cheirinho de casa de vó.
Evoluímos. Saímos do estado em que estávamos até dias atrás e estamos nos reconectando, pessoa a pessoa, com contato físico, mais seletivo, mais íntimo, mais real.
Moda é comportamento social, moda é expressão de quem somos. Que possamos nos mostrar em cada detalhe da nossa imagem, para que de alguma maneira, esta comunicação silenciosa da nossa aparência, transmita aquilo que carregamos dentro do peito, atingindo um outro coração real e não virtual.
Michelle Manfroi
@avisagista
@estilosemb