Texto publicado em 2 de dezembro de 2008
Fiz parte da última reunião do Grupo Gratidão e principalmente tirei muito proveito da palestra da psicóloga Terezinha Humann. A Dona Terezinha foi uma das pessoas que me abriram os olhos para a verdadeira caminhada em busca da recuperação. Lembro de duas ocasiões: a primeira foi quando eu estava com três meses de residência e, mais fortalecido fisicamente, achava que o meu tempo de Renascer deveria terminar por ali. Havia tomado um chá que tem lá na Fazenda e só nasce dentro de comunidades terapêuticas: o “chá tô bom”. Este chá na verdade não faz bem, ele alimenta o ego e o autoengano. Na verdade é uma erva daninha que se mistura com o inço, outro problema nas comunidades. Achando que o efeito do tal chá era bom acreditei que era chegada a hora de ir embora da Fazenda e coloquei isso na reunião da Dona Terezinha. Ela me questionou se não era a droga me chamando, e do alto do meu orgulho respondi que não.
Mas saindo da reunião me peguei a pensar e ali acordei pela primeira vez em minha caminhada, pois percebi que estava fazendo as minhas vontades novamente e que essas já não me perteciam mais pois tinham sido entregues a Deus. E, sendo elas entregues, que direito eu tinha de tomar essa decisão sozinho? E fui ficando na comunidade…Passei pelo quarto passo, pelo confronto, e pelo quinto passo – momentos muito importantes para quem faz recuperação em comunidades terapêuticas.
Finalmente, saí de visita pela primeira vez e dei de cara com o mundo novamente à minha frente – uma família remodelada e onde eu me sentia um estranho. Parecia que ali não era mais o meu lugar. Foram cinco dias de muita confusão em minha cabeça ainda doente.
Voltei para a Fazenda e fui à consulta com a Dona Terezinha. Coloquei minhas dúvidas, inseguranças e falei que me sentia um estranho na nova vida que me era proposta. Recebi um retorno que tomei como lei em minha caminhada, Dona Terezinha perguntou o quê eu tinha feito nos seis meses de minha caminhada e disse também que eu estava perdendo o meu tempo, porque eu não tinha pegado o gosto pela caminhada de recuperação.
Afirmou que sem isso era melhor eu voltar para casa e desistir.Foi nesse momento que percebi a grande diferença em querer e não querer recuperação. Ser feliz sem as drogas é a grande sacada e isso era o “pegar gosto pela recuperação”.
O grande problema que vejo nos dependentes é que eles se tornam pessoas tristes e sofrem sem a substância, e é exatamente o contrário que se deve fazer, devemos comemorar uma vida sadia e em abstinência. Claro que só podia me sentir um estranho em minha nova vida, pois não tinha nenhuma. Tinha sim uma ilusão de ter e dos prazeres imediatos. Minha vida de hoje um ano e três meses não é uma maravilha, mas é o que tenho.
Mas com certeza é bem melhor do que a que eu vivi durante meus trinta e cinco anos de adicção ativa.
IMPORTANTE
Este é um dos muitos textos sobre recuperação da dependência química e do álcool que escrevi durante os 20 anos de minha caminhada rumo a sonhada sobriedade. Não sei se alcançarei, sobriedade é muito mais que parar com o uso do álcool e das drogas, mas estou no caminho certo. O projeto é um livro, ele vai sair, se possível, lançado na Feira do Livro de Canoas ainda este ano.
Por enquanto, todos os domingos irei colocar um dos textos em nosso site, se ajudar alguém que estiver procurando ajuda, já estarei gratificado.
BOM DOMINGO PARA TODOS!