Este texto é uma reflexão das perdas e amigos especiais que perdemos pelo caminho de recuperação, foram muitos, deixaram saudade e lições e, principalmente, evitar hábitos, pessoa e lugares. Não recordo a data que escrevi, mas foi logo após minha saída da Comunidade Terapêutica Fazenda Renascer em 2006. Leia e reflita, mesmo não sendo usuários, todos computamos perdas durante a vida, faz parte. O importante é prosseguir, pois os amigos que deixamos pelo caminho são muito mais que perdas. Eles são fundamentais em nossas vidas, mesmo que por somente um breve período.

Nem todas as coisas foram inaproveitáveis em minha vida desregrada e no mundo das drogas. Durante esse período de fugas, encontrei também grandes amigos, pessoas boas e que, como eu, se perderam em algum momento de suas vidas.
O uso das drogas e do álcool começa como uma brincadeira. Alguns usam por um tempo e abandonam, outros passam a vida inteira usando com moderação em festas, em fins de semana e ocasionalmente. Mas, como eu, muitas pessoas desenvolveram a dependência e muitos não conseguiram recuperação ou ajuda de alguma entidade como a que me foi oferecida pela Comunidade Terapêutica Fazenda Renascer.
Durante o período de minha drogadição ativa e em minha recuperação, perdi muitos amigos muito especiais. O primeiro deles faleceu aos 19 anos, em 1989, e era quase que um irmão mais novo. Naquele tempo, eu ainda não usava drogas e era um bebedor de fins de semana, mas estava sempre com esse menino e o protegia. Ensinei-lhe o ofício de diagramador, mas ele, talentoso, logo já estava superando o mestre. Foi meu colega durante anos, mas partiu de uma maneira chocante. Foi a primeira grande perda de um amigo que tive. Volta e meia, lembramos dele em nossas rodas de conversas. Era um menino sem maldade, de alma pura, mas que foi derrotado pela dependência.
Passaram-se os anos e fui perdendo vários de meus amigos e parceiros de consumo. Volta e meia, subo a lomba da Santos Ferreira para velar alguém que perdeu ou não teve tempo de acordar para uma vida espiritual e, assim, preencher o vazio que as drogas deixam na gente.
Esse é o efeito que as drogas e o álcool causam em um dependente, que sem ajuda não tem coragem de lutar sozinho. Sei que ainda vou computar muitas perdas pelo caminho de recuperação. O índice de pessoas que conseguem ficar em pé é de dois em cada dez. Isso se elas buscarem ajuda, quer seja em uma igreja, em comunidades ou de outra forma.
Existe saída, mas não é fácil. É preciso coragem para mudar os hábitos de uma vida sem rumo. É preciso novas atitudes, e corretas, para obter os resultados que podem levar a uma mudança de comportamento.
Com tudo isso, concluo que quando procurei ajuda, computei muitos ganhos e melhorias em minha vida, as perdas foram fortes, porém poucas, perto do muito que Deus me concedeu.

Então, vamos viver o presente de Deus e “carpe diem” (aproveite o dia)!

 IMPORTANTE

Este é um dos muitos textos sobre recuperação da dependência química e do álcool que escrevi durante os 20 anos de minha caminhada rumo a sonhada sobriedade. Não sei se alcançarei, sobriedade é muito mais que parar com o uso do álcool e das drogas, mas estou no caminho certo. O projeto é um livro, ele vai sair, se possível, lançado na Feira do Livro de Canoas ainda este ano.

Por enquanto, todos os domingos irei colocar um dos textos em nosso site, se ajudar alguém que estiver procurando ajuda, já estarei gratificado.

BOM DOMINGO PARA TODOS!