Texto da Coluna do Jornal o Timoneiro de 2015
Tenho um amigo especial, é o João Batista Fernandes (in memorian) — um suboficial da FAB, o qual sempre que encontro costuma dizer:
E aí Marcão, Qual é o foco?
O conheci quando já estava em recuperação de minha dependência e da doença do comportamento.
Porém, o Fernandes é tão agradável e bom amigo que parece que o conheço desde criança. Somos amigos e não andamos juntos, mas cada vez que nos encontramos, trocamos ideias sobre o foco do momento. Pode ser o futebol — ele é gremista e eu colorado, então o papo sempre rende. Pode ser o assunto do dia nos jornais, entre outros tantos.
Mas o principal assunto sempre é a minha coluna no Jornal O Timoneiro de Canoas.
Desconfio que o Fernandes aprendeu a me conhecer lendo a coluna. O cara “tá ligado” nos meus textos e como eles representam o meu dia em depoimentos. Discutimos pelo menos uma vez por semana “o foco” do que escrevi no jornal.
Sempre paro para falar com ele sobre isso, dar minhas explicações dos “porquês” do assunto que ele leu.
A discussão se torna muito agradável e a amizade aumenta com isso.
Citei esse fato “do foco” e o Fernandes como exemplo da relação que estabeleci com a sociedade de Canoas em minha caminhada de recuperação. As pessoas ou os leitores me abordam na rua, alguns criticam, outros elogiam. Mas “o foco” sempre é saber como me encontro e se estou bem.
Esta tem sido a grande vitória de minha vida em recuperação. Escrevo e vivo isso intensamente. Escrever sobre minhas nuances, as vitórias, as derrotas, o equilíbrio, o desequilíbrio. Tudo isso é percebido pelos meus amigos e leitores e gera discussão. Transformei minha caminhada em um compromisso público e talvez isso seja um dos grandes pilares de minha recuperação.
“O foco” está em mostrar que sou uma pessoa normal, com problemas e alegrias. Nada de excepcional em uma vida regrada que escolhi para ter. Viver sem álcool e drogas é uma questão muito mais de saúde. O verdadeiro “foco” está na melhora do “SER” e é nisso que tenho que me concentrar.
Nesse quesito tenho baseado meus últimos textos e o Fernandes, sempre ligado na coluna, representa o leitor, o companheiro fiel de minha caminhada. Dividir minhas verdades contadas de maneira simples, que tem chegado para muitos. Sabedor de minha responsabilidade em transmitir e agir para o lado bom da força, tenho mantido meu “foco” e quando perco tenho o bom e fiel leitor para me chamar a atenção. É interessante a constatação que tenho feito, todos de alguma forma passaram a ser meu grupo de apoio. Fiz da sociedade e do jornal um compromisso e minha manutenção para a doença que tenho e que é incurável.
E os amigos e leitores são os primeiros a me alertar para o fato, sendo ele bom ou negativo.
Que venham muitos Fernandes me perguntar “Qual é o foco”, pois é na participação de todos que sigo firme e em frente.
E a resposta para “qual é o foco?”
É sempre a mesma: nada e nem ninguém, me fará usar álcool ou drogas, SE EU NÂO QUISER.
Só por hoje são 14 anos limpo (hoje estamos indo para 21).
IMPORTANTE
Este é um dos muitos textos sobre recuperação da dependência química e do álcool que escrevi durante os 20 anos de minha caminhada rumo a sonhada sobriedade. Não sei se alcançarei, sobriedade é muito mais que parar com o uso do álcool e das drogas, mas estou no caminho certo. O projeto é um livro, ele vai sair, se possível, lançado na Feira do Livro de Canoas ainda este ano.
Por enquanto, todos os domingos irei colocar um dos textos em nosso site, se ajudar alguém que estiver procurando ajuda, já estarei gratificado.
BOM DOMINGO PARA TODOS!