Foi um ano bom, apesar das tempestades, a promessa nunca foi de felicidade. Foi de muito esforço, vi uma cidade se reerguer da calamidade das enchentes, de maus governantes e outras mazelas. Tivemos mais uma mudança de governo, em meio a grandes turbulências a população resolveu que é hora de novos ares no Paço Municipal.
Para ver que nada se consegue por acaso, estou republicando um artigo de 2010, são 20 anos de uma caminhada exitosa e de crescimento. Só conquistas, tivemos perdas também, mas a vida é luta. A mim cabe seguir em frente e ter fé, em mim, e nas pessoas. O ano está findando, fui agraciado com o título de Comunicador/Jornalista do ano em Canoas, nada mal para um recuperando do comportamento. Que venham novas conquistas para todos, afinal, Canoas merece.
Aguardem, em 2025 sairá o Livro, ainda sem título.
Um milagre conquistado
Por Marco Leite
Tenho conversado muito sobre o milagre da recuperação com amigos, nem todos dependentes, alguns são * codependentes. Isso tem sido uma reflexão e uma espécie de quinto passo, sendo o passo da volta da confiança nos outros e, principalmente, um amadurecimento da relação com Deus.
Para dar alento aos que continuam sofrendo com o problema do abuso, do uso do álcool e das drogas, o melhor remédio é contar minha história e usar como exemplo de que é possível sim uma recuperação.
Falando sobre mim, passo um pouco da experiência e da busca do milagre da recuperação. Viso falar do velho Marco e de como ele agia antes de buscar auxílio na Comunidade Terapêutica Fazenda Renascer. Aí, vejo o quanto caminhei e conquistei qualidade de vida e prazer em viver, buscando uma espiritualidade e poder dividir isso com os outros.
O novo Marco, ou “novo homem” como fui chamado dia desses no centro aqui de minha cidade, não existe pelo simples milagre de Deus. Para chegar a ele foi preciso muito esforço e conquistas no dia-a-dia.
Com a aceitação da doença e consciência que sou um doente, sigo em frente e acabo por ser procurado por pessoas, famílias e companheiros que ainda sofrem com o problema de uma vida desregrada.
Julgadores e milagres
Como aprendi, ainda muito cedo, em minha caminha de recuperação, jamais buscarei alguém para ajudar ou levar para uma casa de recuperação. Acho que o mais importante para uma recuperação é o dependente querer se ajudar. Para isso, o primeiro passo tem que ser dado por ele — a aceitação da derrota. Aí, sim, pode ser começada uma caminhada rumo ao milagre da conquista da recuperação.
Foi assim comigo e deve ser com todos, quer a pessoa tenha ido forçada ou não para uma casa de recuperação para dependência química. Já vi pessoas despertarem para a recuperação em uma clínica e tenho amigos que nunca passaram por esse processo pelo qual tive que passar. Conseguiram o despertar espiritual em grupos, de igrejas ou em doutrinas espíritas.
É a atitude que leva a recuperação. Nunca, em momento algum, eu vi o milagre acontecer sem o esforço. Recuperar-se de um processo de destruição é muito difícil e acomodação não combina com o processo. Pelo contrário, ajuda ainda mais nas velhas atitudes, como a manipulação e o ato de enganar os outros.
Ledo engano!
Uma pessoa dependente só engana a si mesma. A recaída começa a acontecer nas pequenas atitudes e o ato do usar drogas ou álcool é novamente o fim do processo. É importante o esforço de entender que nem sempre o que é bom para nós é a atitude que deve ser tomada, assim como o esforço em dizer não para as coisas fáceis e partir para as atitudes que levam a um exercício. É como em uma escola, na qual a pessoa passa por vários testes até aprender as coisas para passar de ano, ou seja, ser aprovado.
A diferença está em que o ser reprovado, em recuperação, resulta no uso e depois no fracasso de uma caminhada. Exemplos de esforço tenho muitos para relatar e, às vezes, nem isso basta. O recuperando do comportamento tem que estar sempre disposto a dar algo a mais na busca de uma caminhada rumo à sobriedade.
Dia desses encontrei vários amigos e vizinhos indo para uma reunião de NA. E, com alegria, estou vendo mais milagres acontecendo através do esforço e do desejo de sair das amarras de uma dependência. Tenho visto muito desse tipo de milagre e, em alguns, tenho até participado como instrumento de Deus para salvar vidas que se encontram perdidas no vale das sombras.
Mas isso só tem acontecido porque não me juntei aos julgadores de plantão, tão presentes entre os companheiros de recuperação. É cuidando de minha caminhada e de minhas atitudes que sigo em frente, muito mais do que com palavras com atos, e assim passo a ser um agente multiplicador de milagres da vida.
E é assim mesmo, quando passei a cuidar do meu problema e não da vida dos outros, acabei por encontrar o rumo certo.
Fica a pergunta: qual é o rumo certo? Não sei responder, mas posso arriscar um palpite. O milagre da ação de Deus em nós não acontece por acaso. Aliás, nada é por acaso. Se tive que passar pelo processo que passei, é porque disso eu iria ter um crescimento como pessoa. Já relatei, em outros artigos, que levei 42 anos para me tornar um homem de atitude.
E esse foi o dia que procurei ajuda. Primeiramente de meus familiares, após estranhos que entraram em minha vida e finalmente de Deus. Mas, como sempre digo, Ele me deu as possibilidades, as escolhas serão sempre minhas. Cabe a mim me esforçar em busca do milagre que desejo que aconteça comigo.
Não sou um santo, e nem quero ser. Sou cheio de defeitos e sei quase todos eles. Convivo com tristeza de ser vencido por eles, às vezes. Mas por me conhecer é que me penitencio e recorro a Deus para pedir ajuda.
Não para que Ele solucione meus problemas, mas que me dê forças para lutar contra o maior dos problemas “o aflorar do velho Marco”. É essa luta diária e do esforço que acho que o Milagre da Recuperação pode vir a acontecer comigo e com todos que se entregam a uma causa nobre de ser uma pessoa do bem.
(Artigo publicado no site da Revista Anônimos)
*O que é Codependência?
A Codependência pode ser definida como um transtorno emocional característico de familiares ou de pessoas que convivem com dependentes químicos, jogadores patológicos, e de pessoas com transtorno de personalidade.