Ágata Mostardeiro | É uma pessoa, uma cidadã e deve ser respeitada

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Hoje vamos entrevistar Ágata Mostardeiro, a denunciante que protocolou o requerimento e fez com que a Câmara Municipal de Canoas aprovasse, por 14 votos favoráveis e 6 contrários, a abertura de uma Comissão Processante contra o vereador Ezequiel Vargas Rodrigues (PL).

Conforme a denúncia, o parlamentar teria publicado, em maio de 2025, conteúdos em suas redes sociais que, segundo as autoras, apresentariam linguagem ofensiva e discriminatória contra mulheres de Canoas. As publicações teriam sido feitas no contexto do Dia das Mães e, conforme alegado no documento, incluiriam manifestações consideradas pelas denunciantes como ideológicas, misóginas e transfóbicas.

Para a entrevista com Ágata, queríamos ouvir ambos os lados, porém encaminhamos as perguntas no mesmo teor da questão ao vereador Ezequiel e não recebemos as respostas.

Não estamos aqui para agradar A ou B, somente apresentamos os fatos que acontecem e assim publicamos. Claro que as perguntas contêm o veneno característico do Notícias da Aldeia, é de nossa natureza jornalística. Mas aqui todos têm voz.

E hoje é a vez de Ágata, ela nos relata que: “Expus minha dor e o que senti, assim como outras mulheres. Acredito na competência da Câmara em lidar da melhor forma possível sobre isso”.

Diz ,também, que já sofreu todo tipo de violência físicas e verbais e que a discussão é sobre humanidade e justiça, só coibindo isso e denunciando é que se poderá abrir portas na vida.

Mas vamos às perguntas e as respostas da entrevistada.

 

Você poderia se apresentar aos nossos leitores? Gostaríamos de saber sobre a sua história de vida, sua família, profissão e, ao final, que pudesse nos contar sobre a sua trajetória política.

Sou Ágata Mostardeiro, tenho 31 anos, sou uma mulher trans, bióloga, professora, trabalhadora da cultura (palhaça) e mãe. Minha família é composta por mim, meu filho de 6 anos, meu marido, minha mãe e dois irmãos mais velhos que me enchem de orgulho. Em 2018, tive um grande processo judicial para conseguir registrar meu próprio filho, um caso que ganhou destaque na mídia, e enfrentamos diversas dificuldades devido à demora do reconhecimento e à falta de preparo do Estado para lidar com meus documentos e minha família. Foram dois anos até conseguir registrar meu filho da forma correta. Esses entraves que vivi me fizeram perceber a necessidade de me organizar melhor na política para buscar direitos e reconhecimento, para que mais pessoas não passassem pelo que passei. Já trabalhei como educadora social, professora, artista de rua, assessora e também na secretaria de cultura como diretora. Atualmente, trabalho na Trensurb. Na política, concorri em 2020 (vereadora em Canoas), 2022 (deputada estadual) e 2024 (novamente vereadora em Canoas), sempre pelo PT, e sou 2ª suplente.

 

Você fez uma denúncia, que foi aceita e está em análise na Câmara de Vereadores pedindo impeachment do Vereador Ezequiel. Você poderia explicar o caso para nós?

Sim, realizei a denúncia referente a postagens feitas nas redes sociais, nas quais me senti profundamente ofendida pela forma como o vereador se referiu a mim e a outras mulheres.

 

O advogado do ex-vereador Giovanni, no dia em que ele foi cassado, “profetizou” que o próximo cassado seria Ezequiel e que o pedido de impeachment dele estaria “em uma gaveta” do vereador Emílio. Nas suas postagens sobre a publicação infeliz do dia das mães do Vereador Ezequiel, você insinuou uma homossexualidade enrustida por parte do vereador, que teria respondido que “gostava de mulher e não de imitação”, o que lhe deu margem a fazer o pedido. Você não fez a provocação de caso pensado? Não parece muita coincidência que o vereador Emílio, na Tribuna, tenha dito que você é indicação dele para cargo dentro do partido? Você não se sente desconfortável com as acusações do Vereador Ezequiel de que você esteve no Gabinete do Vereador Emílio antes de oferecer a denúncia? O vereador lhe assessorou política ou juridicamente para fazer a denúncia ou você nunca falou com ele a respeito antes ou após entrar com o pedido?

Não acompanhei o caso anterior da Câmara. Na postagem, em momento algum insinuei uma “homossexualidade enrustida”. Falei sobre uma questão social ampla em que precisamos avançar no reconhecimento e protagonismo das mulheres na sociedade. Fiquei realmente surpresa com a forma como o vereador me tratou. Ele mesmo disse, no dia da abertura da CPI, que eu já havia contatado ele sobre outros assuntos e fiquei ofendida com o rumo que tudo tomou.

Claro que fico desconfortável!

Estive no gabinete do vereador Emílio várias vezes, como sempre fui, um grande companheiro de partido, e conversamos muito sobre o processo interno do PT. Emílio ficou tão surpreso quanto eu com a situação, mas neste caso sou uma munícipe que sabe buscar seus direitos.

 

Quando fiz bariátrica, eu perdi cem quilos. Fazemos acompanhamento de saúde mental em grupo, pois alguns desenvolvem anorexia, pois mesmo magros, se enxergam gordos. Existe até um CID, que é o transtorno de autoimagem, e todos os operados precisam passar por avaliações e precisam acompanhar a saúde mental antes e depois da cirurgia. Um colega do grupo questionou: “se eu fosse um transexual, vocês teriam que me enxergar como eu me vejo e não o contrário”. Tenho certeza que essa espécie de questionamento permeia a mente de muitas pessoas. Aproveitando que você é uma pessoa esclarecida e ativista da causa LGBTQIAPN+, gostaria que você explicasse para todos os nossos leitores a importância da sua luta e o quanto é importante o acompanhamento da saúde mental de todas as pessoas, inclusive no que se refere às dificuldades que as pessoas defendidas pela sua causa passam com o preconceito, com a desinformação e com a violência.

Nós, pessoas trans, lutamos todos os dias quando acordamos, pegamos uma condução e sofremos violências diárias de todas as formas, inclusive físicas, em decorrência de preconceito por parte da sociedade. A meu ver, discursos que retiram nossa legitimidade fomentam violências diversas na sociedade. Já sofri violências físicas e verbais, fui impedida de usar banheiros públicos e enfrentei violências por parte do Estado, como no caso do registro de meu filho. Posso afirmar que há palavras que doem mais do que uma violência física. Canoas possui importantes políticas para auxiliar nossa comunidade, e aproveito para falar da importância do ambulatório trans para atender nossa população de diversas formas, trazendo um pouco de dignidade para nós.

 

Recebemos a informação de que o inquérito policial instaurado frente à sua denúncia contra o Vereador Ezequiel foi arquivado. Como você recebe essa notícia e quais medidas pretende adotar?

Sim, vi sobre isso ontem. Estou buscando informações, pois estive em um hospital com minha mãe e estou focada na recuperação dela.

 

Qual a sua expectativa a respeito do julgamento político que será feito acerca da sua denúncia na Câmara de Vereadores? Tivemos seis vereadores que não queriam nem receber a denúncia. Sabendo que sete votos são suficientes para arquivar o caso, você acredita que exista ambiente político suficiente na sua denúncia para a cassação?

Eu expus minha dor e o que senti, assim como outras mulheres. Acredito na competência da Câmara em lidar da melhor forma possível sobre isso.

 

Você é uma militante de esquerda e Ezequiel, de direita. Adentrando um pouco na questão ideológica, como você vê essa onda de direita que se expande no mundo? Aonde a esquerda está errando para dar tanto espaço não somente para a direita, mas até para a extrema-direita? Como você avalia o atual mandato do Presidente Lula, que criou uma expectativa de fartura na mesa do brasileiro de picanha e cerveja e hoje o que vemos é uma alta de preços dos alimentos absurda, especialmente em itens básicos como o ovo e o café? Quais as críticas que você faz aos rumos econômicos do nosso país e da trajetória da esquerda como ideologia política?

Sobre lado político, não vejo desta forma. Mas quem sabe, quando tudo isso passar, será um prazer falar sobre isso, mas não aqui, não sobre esse assunto. Para mim, aqui é sobre humanidade e justiça. Até evito ler comentários, pois me entristece profundamente alguns posicionamentos e ataques que fazem a mim nas redes.

 

Você possui pretensões políticas em cargos eletivos? Quais as suas aspirações políticas e qual o trabalho que você desenvolve para atingir seus objetivos? Aprofunde um pouco essa questão para os nossos leitores.

Assim como na pergunta anterior, não acho que seja momento de discutir isso. Luto pelo que acho certo, com base em tudo que já vivi, e assim seguirei. Sempre que trabalhamos de forma séria e pelo correto, as pessoas enxergam nosso trabalho, bem como nosso tratamento com as pessoas, e isso abre portas na vida.

 

Caso a política não seja o seu rumo no futuro, qual será sua dedicação profissional? O que você pretende fazer da sua vida, quais são os seus projetos profissionais e pessoais fora da política?

Sempre trabalhei duro na vida e sigo assim, como me apresentei, e a política não muda isso. O importante é sempre trabalharmos em algo que a gente tenha orgulho do que faz.

 

Agradeço a oportunidade da entrevista e questiono: você gostaria de deixar uma última mensagem aos leitores do Aldeia?

Agradeço a quem se solidarizou comigo e quero pedir menos ódio, menos ataques. Evito ler, mas às vezes a gente se machuca com o que falam da gente. Que vejam uma mãe que corre, trabalha, que já sofreu muitas injustiças e ataques, mas que tenta fazer o certo sempre. Tentem ver a dor de alguém que já passou por muitas dores.

 Colaborou na entrevista: Marco Leite

7 Respostas

  1. Bom dia!

    Já que se fala tanto em humanidade e menos ódio, não seria o caso da Ágata aceitar o pedido de desculpas que foi realizada na sessão da câmara, e se mostrar maior que qualquer diferença que possa haver. Seguir com uma denuncia que até mesmo já foi arquivada pelas autoridades policiais, não acredito que seja demonstração de querer diminuir a rivalidade que atualmente existe entre os envolvidos. Aceitar o pedido de desculpas, isso seria um gesto de quem vive o que prega.
    Acredito que ambos os lados devem refletir e se respeitar, demonstrando à todos que as diferenças podem ser superadas com a compreensão e empatia, que somos humanos e podemos errar.

    Abraço à todos!

    1. Assisti toda a sessão e não vi um pedido de desculpas, ao contrário, vi o vereador dizer que falou para Ágata que não gostava de “imitação de mulher” sem se dirigir nominalmente a Ágata. Criminalmente o vereador não responde pq tem imunidade parlamentar para processos civis e criminais, mas não possui imunidade para ser julgado por ausência ou não de decoro. Abraço.

  2. Vivemos tempos em que o respeito mútuo precisa ser mais do que uma bandeira: deve ser uma prática. Todos, sem exceção, merecem ser tratados com dignidade, pois somos, antes de qualquer ideologia, profissão ou convicção, seres humanos criados por Deus, com liberdade de escolha e consciência.
    A Ágata, assim como qualquer cidadão brasileiro, tem o direito de se sentir ofendida e buscar os meios legais para reivindicar justiça. Isso está dentro do nosso Estado democrático de direito. Porém, é igualmente importante lembrar que o perdão e o diálogo também são caminhos poderosos de cura e transformação. Quando alguém se dispõe a pedir desculpas publicamente, isso não deve ser ignorado. Perdoar não é concordar com o erro, mas é demonstrar grandeza de alma e compromisso com a paz. É sinal de maturidade e amor ao próximo.
    Jesus nos ensina a amar o nosso próximo, inclusive aqueles com quem discordamos. E amar o próximo não significa abrir mão dos princípios, mas sim tratá-lo com respeito, mesmo quando pensamos diferente. Somos livres para pensar, crer, agir , isso é o livre-arbítrio , mas precisamos lembrar que nossa liberdade não pode ferir o outro.
    Que todos os envolvidos, de ambos os lados, possam refletir com serenidade. Que Canoas, nossa cidade, possa ser um exemplo de convivência respeitosa, onde conservadores, progressistas, cristãos, não cristãos, todos possam viver com liberdade e responsabilidade, sem abrir mão da verdade, mas sempre com amor.
    Que Deus abençoe a todos e que a justiça, a paz e o bom senso prevaleçam.

    1. Amigo Douglas, a resposta que dei ao Alvino acredito que seja útil como contraponto e resposta ao teu comentário. Abraço.

  3. Bom dia!!!
    Bom falando um pouco sobre o caso, vejo que tá agindo sobre base e comando do partido , não é segredo para ninguém que essa menina se vendeu barato, e aínda quer falar em moralidade respeito e humanidade , pessoas como ela no Brasil não são raras, tem muito por aí , e com todo respeito aos que tem uma opinião contrária a minha eu no lugar dessa pessoinha me retrataria e sim pediria desculpa ao vereador pelo ato ao qual só a purpurina da se ofendeu…
    Cresse criança pois enquanto seguir sendo robozinho será essa pessoa de mente pequena e sem perspectiva…
    Grande abraço 🫂
    Pai oxalá abençoe a todos 🕊️🕊️🕊️

    1. Não sou do partido de Ágata, não sou homossexual (caso seja isso que tu quis dizer com “purpurinada”), mas considero muito infelizes, para dizer o mínimo, as declarações do vereador Ezequiel. Tenho uma mãe de esquerda e um pai de direita e quando vi a postagem dele no dia das mães, achei bem ridícula. Minha mãe é uma pessoa admirável e tem a ideologia política dela, o que não a torna uma pessoa indigna de respeito e admiração. Acho que um vereador deveria fazer algo mais útil para os canoenses do que ficar dizendo que não gosta de “imitação de mulher”. Estamos no país que mais mata pessoas lgbtqiapn+ no mundo, o mínimo que se espera é que um representante dos canoenses no Legislativo busque o respeito e a conscientização das pessoas sobre o tema. Abraco.

    2. Tu tens prova que ela se vendeu barato? Quanto ela recebeu e quem pagou? Vou te dizer uma coisa, trde social não é terra sem lei e as pessoas têm que ser responsabilizadas pelo que afirmam. Isto não é e nunca será liberdade de expressão, quando acusados alguém precisamos de provas, espero que tu as coloque aqui ou vai responder por tuas afirmações.

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