Domingo, 21 de setembro, 6h30min, uma boa noite de sono, por fim, ouvindo a música O Último Grito, de César Passarinho. Pensativo e preparando um chimarrão, ouço o tom de minhas dúvidas no chiar da água que vai extrair o sabor amargo da erva mate e transformar minhas dúvidas em doces soluções.
Este, com certeza, não é um dia qualquer, pois ele é o primeiro dia de minha nova vida, feita de desafios e na qual a proposta é vencer de 24h em 24h.
Em cada pausa para encher minha cuia penso que neste mundo são poucos os que se importam, são poucos que realizam, e a grande maioria é de curiosos. Seguem suas vidas sem notar que parar para um chimarrão é preciso.
Pois decidi que o matear é obrigatório e que nele devo lavar os males e dar vivas às coisas boas.
A cuia, a bomba, a erva mate e a água quente são a mistura mágica que me leva e lava o que existe de ruim em mim. É no chimarrão que peço perdão pelos meus erros do dia e no amanhecer transformo o amargo em doce alegria, de gratidão, de estar vivo e me preocupando em ser melhor para mim e para os outros.
Pausa… a água quase fervida tem que fazer seu processo. É na mistura que a magia acontece e nos convida à reflexão. Não existe nada mais verdadeiro que matear sólito, é nesse momento que me confronto e me cobro ações.
Doce chimarrão, em seu amargor, vou colocando ordem nas coisas, por exemplo, conferindo se estou fazendo o necessário ou o que é bom para mim. É preciso refletir sempre se o que é bom é necessário, para um doente do comportamento, com eventual fuga no álcool e nas drogas, essa pergunta se faz sempre necessária. Pois em tempos de ativa o bom era o prazer imediato, e agora não. Os valores vêm antes do prazer. A reflexão e o pensar antes de agir devem vir sempre em primeiro lugar.
Nos últimos dias, voltei a caminhar em recuperação, mas nem por isso deixo de cometer erros e perder o sono por causa disso.
Penso que todos temos o direito à felicidade e eu luto por isso. Ficar preso a compromisso e às aparências não levam a nada. A prisão verdadeira é não estar aberto para a vida. Entre um mate e outro reflito, que a pior das prisões é a falta de liberdade do cárcere das emoções. Sem isso a pessoa pode estar no paraíso e ainda assim estará enxergando problemas e um mundo sem soluções.
Então que este chimarrão me ensine o grito de liberdade e não o último grito, pois sou um lutador e luto pelo que almejo. Eu quero, eu posso e eu consigo, pois tenho Deus ao meu lado e com Ele e quem estiver querendo um bom chimarrão que se una a nós e vamos formar a corrente do fazer o bem.
Bom chimarrão para todos nós.
IMPORTANTE
Este é um dos muitos textos sobre recuperação da dependência química e do álcool que escrevi durante os 20 anos de minha caminhada rumo a sonhada sobriedade. Não sei se alcançarei, sobriedade é muito mais que parar com o uso do álcool e das drogas, mas estou no caminho certo. O projeto é um livro, ele vai sair, se possível, lançado na Feira do Livro de Canoas.
Por enquanto, todos os domingos irei colocar um dos textos em nosso site, se ajudar alguém que estiver procurando ajuda, já estarei gratificado.
BOM DOMINGO PARA TODOS!
5 Respostas
Lindo e maravilhoso texto Marco, gratidão por nos colocar sempre a refletir principalmente pelo caminho que estamos trilhando.
Parabéns ao lindo texto e ao grande feito no encontro dos amigos do mais Zum
Belo é verdadeiro ……abração Marco Leite
O Grupo Indiada sempre será unido. Estamos juntos a longo tempo nessa mesma jornada. E viva os farroupilhas!!!
Belo texto, serve para todos, independente da condição de vida. Seus valores estão muito bem colocados.