CAMINHOS DA VIDA | Dúvidas permanentes

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O Texto é a representação da luta que travamos contra a doença do comportamento, seremos sempre uma dúvida para a sociedade, como a incrédula fictícia leitora. Mesmo com isso é preciso seguir em frente, pois a luta é árdua e, também, prazerosa. O texto de meados de  2018, tenham uma BOA LEITURA.

“Caro Marco!

Tenho acompanhado sua coluna em O Timoneiro desde o início e seus depoimentos me indicam muitas dúvidas. Não estou crédula de que você, realmente, pratique o Décimo Segundo Passo por completo. Você sempre definiu esse passo como “levar a mensagem”, e essa primeira parte parece que tens conseguido. Suas mensagens, algumas vezes, mostram o caminho a ser seguido.
Mas será que a segunda parte do passo, que é praticar esses princípios em todas as suas ações diárias, ocorre, já que você mesmo costuma dizer que vive o Só por hoje? Não acredito que um dependente possa cumprir todas as tarefas do Décimo Segundo Passo.
Vocês, dependentes, não são pessoas confiáveis, eu vejo isso no dia a dia de suas vidas. Tenho a certeza que suas famílias estão sempre com um pé atrás com vocês. Seus vizinhos já lhe viram no bar da esquina parado, conversando com outros dependentes. O Gringo, o José, o Alfredo, o vizinho da loja e outros não acreditam em sua recuperação.
Alguns chegam a ter a coragem de lhe perguntar, por vezes, se você não tomou nem um golinho durante a sua caminhada. É verdade ou não? Quantas vezes lhe foi feita a pergunta: não tomaste nem um traguinho durante esses 13 anos?
Eu e metade da sociedade não torcemos por dependentes. Eles têm mais é que sofrer, pois nem eles acreditam em si. E o que você faz, aqui na coluna, é jogar palavras ao vento, e que não têm relevância nenhuma.”

Uma leitora incrédula

Ficção
A carta acima fui eu quem inventou. É uma ficção ou será que não?
Foi o sentimento de exclusão que me levou a usar álcool e drogas para buscar a aceitação da sociedade. Ainda garoto, caí na armadilha e acabei levando a vida inteira para me dar conta que isso me levou à dependência. A carta contém algumas verdades. A principal delas é que as pessoas que me rodeiam e convivem comigo sempre vão desconfiar de minha recuperação.
Não os culpo de modo algum. Estou pagando o ônus de tudo que plantei e agora a colheita é obrigatória.
Desde que saí da Renascer, comecei uma nova lavoura, mas a velha ainda gera a colheita da desconfiança. Talvez eu vá levar a vida inteira plantando novamente e nem venha a colher bons frutos. Mas sei que estou no caminho certo e enfrentar as dificuldades de ter quebrado meu anonimato faz parte dessa caminhada.
Sou vigiado por tudo e por todos, mas não esquento a cabeça. A sociedade é assim mesmo, sempre foi. Eu é que não estava preparado antes, pois não tinha fé e sem fé cometi várias insanidades.
Enfrentar as desconfianças aqui é fácil, pois hoje tenho Deus ao meu lado e acredito que o período de dez meses que passei na Renascer, fez nascer um homem novo.
Um homem que sabe o que é um fundo de poço e quer contribuir com algo de bom na vida, que é o simples fazer o bem.

IMPORTANTE

Este é um dos muitos textos sobre recuperação da dependência química e do álcool que escrevi durante os 20 anos de minha caminhada rumo a sonhada sobriedade. Não sei se alcançarei, sobriedade é muito mais que parar com o uso do álcool e das drogas, mas estou no caminho certo. O projeto é um livro, ele vai sair, se possível, lançado na Feira do Livro de Canoas ainda este ano.

Por enquanto, todos os domingos irei colocar um dos textos em nosso site, se ajudar alguém que estiver procurando ajuda, já estarei gratificado.

BOM DOMINGO PARA TODOS!

 

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