CAMINHOS DA VIDA | O pai esquecido

Clique para ouvir esta notícia

Em minha caminhada de recuperação da dependência química, considero que tenho atitudes retas. Às vezes, pareço distante e até frio com as pessoas ao meu redor. Uma coisa, porém, é certa: sempre sou verdadeiro em qualquer situação e assumo as consequências dos meus atos.
Nos últimos meses, tomei decisões tão importantes quanto aquelas adotadas quando fui buscar recuperação na Comunidade Terapêutica Fazenda Renascer. Graças aos meus companheiros de residência, aos monitores, a minha família e, principalmente a Deus, isso tem acontecido.
Gosto de lembrar de passagens de minha caminhada, pois isso fortalece e impulsiona, ainda mais, minha vontade de andar para frente em busca de uma melhor qualidade de vida. Tenho conseguido isso, mas a vida é muito corrida e decisões são tomadas a cada momento. 

Durante minha estada na Renascer, vi muitos pais esquecidos pelos seus filhos nos Dias dos Pais. Estive em mais de 50 visitas e algumas delas foram nessa data. Era uma cena muito triste, mas com a solidariedade presente, o “pai esquecido” era acolhido pelas outras famílias, que confortavam o residente.
Uma caminhada em uma comunidade é cativante e uma grande escola de vida. Citei o Dia dos Pais como exemplo para mostrar que, em muitos casos, nem os familiares querem mais saber dos dependentes químicos. Na Renascer, isso era sempre suprido pelo amor e pela força de uma busca maior – resgatar o amor próprio e livrar-se da dependência.
Esse é o grande objetivo, mas o ganho é muito maior. O sujeito que, realmente, descobre o caminho, passa a valorizar a vida, a si mesmo e as relações humanas. Um dependente em recuperação consegue tudo ou quase tudo de novo, pois existem perdas irreparáveis.

A grande maioria dos recuperandos se ilude com o resgate e passa a negligenciar o processo. Assim, fica vulnerável a uma recaída. Já tomei decisões bem complicadas em minha vida, mas existe uma coisa que é o elo principal de minha caminhada: nada, nem ninguém vai me fazer parar de crescer e ir em busca da sonhada sobriedade. Já vi muitos “pais esquecidos” seguirem suas jornadas, mas nada vai suprir a ausência de um filho. Convivo com isso, mas são consequências de atos. Devemos fazer por merecer os nossos filhos.

Lembro de um pensamento que considero muito verdadeiro: “É fácil apagar as pegadas; difícil, porém, é caminhar sem pisar o chão.” Com os pés no chão, sempre dando o primeiro passo, e com a consciência de que nada, nem ninguém, vai me desviar do meu caminho, sigo em frente.

A vida é feita de felicidades e de tristezas. Cabe a cada um viver os momentos felizes com gratidão pela dádiva, e saber administrar os momentos de tristeza e deles sair com mais força, pois uma crise bem administrada pode gerar crescimento. Afinal, já recomecei tantas vezes em minha vida e aprendi, com cada uma delas, a me tornar mais forte.
Este artigo é dedicado a todos os “pais esquecidos”, que não puderam receber o abraço dos filhos em seu dia. 

IMPORTANTE

Este é um dos muitos textos sobre recuperação da dependência química e do álcool que escrevi durante os 20 anos de minha caminhada rumo a sonhada sobriedade. Não sei se alcançarei, sobriedade é muito mais que parar com o uso do álcool e das drogas, mas estou no caminho certo. O projeto é um livro, ele vai sair, se possível, lançado na Feira do Livro de Canoas ainda este ano.

Por enquanto, todos os finais de semana irei colocar um dos textos em nosso site, se ajudar alguém que estiver procurando ajuda, já estarei gratificado.

BOM DIA, PARA TODOS!

Feliz dia dos Pais!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit, sed do eiusmod tempor incididunt ut labore et dolore