ELEIÇÕES ARGENTINAS | Viva la libertad carajo

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Antônio Gianichini

Comecei a seguir Javier Milei em maio, pelo seu bordão ousado e pelos posts disse a mim mesmo “Temos uma versão Bolsonaro portenha e logo se espalhará pela Argentina”.

Uma economia fragilizada, uma história de governos peronistas e uma população desacreditada, a figura de um herói tem guarida no sentimento argentino, Milei surge com dois arquétipos fortes, o Herói e o Fora-da-Lei, desacreditado, visto como azarão, conhecido como o “El loco”, tinha algo precioso, uma estratégia e uma boa equipe de marketing.

Todo político precisa eleger um inimigo comum (não necessariamente uma pessoa), na estratégia de Milei foi “A casta política”. Para o imaginário social a casta era os políticos tradicionais, o excesso de ministérios, funcionários públicos, programas sociais e tudo mais que servisse ao seu discurso.

Característicos do fora-da-lei, o mesmo arquétipo da Harley-Davidson, Milei vestia sempre o casaco de couro, quando estava de terno costumava carregar uma capa de couro pendurada no braço. Da venda de órgãos ao ataque ao Papa, gerava polêmica, produzia buzz e projetava sua imagem.  Como as decisões humanas são inconscientes, o cérebro límbico e o reptiliano eram o alvo do inconsciente coletivo argentino, bombardeado pelo neuromarketing de Milei.

Sua cabeleira vasta, foi transformada no símbolo do leão, o rei da selva! Na jornada do herói, Simba foi ganhando empatia, nos comícios uma moto serra era mostrada ao público, cortar as castas! Músicas fortes, rebeldia de um roqueiro e uma juventude com pouca esperança diante do herói sem papas na língua.

Milei é o candidato que aos olhos da racionalidade nos perguntamos, como podem votar nesse candidato? Mas voto não é racional, é gosto, é emocional!

Incrível que alguns políticos ainda não acreditam nas redes sociais, muitos dos que tentam não sabem o poder do marketing digital, fazem conteúdos enfadonhos e passivos, privilegiando o mensageiro ao invés da mensagem, sem falar dos que adotam a cultura do mural de escola do interior em suas páginas, tipo: vendo porco, excursão para Gramado, conserto bicicleta, faço costura… Todo dia algo diferente, sem entender como funciona os algoritmos, muito menos disposto a buscar uma mentoria para otimizar seu resultado.

Massa contou com uma boa assessoria, inclusive uma equipe de excelentes profissionais brasileiros com expertise em marketing político. Fizeram peças maravilhosas, usaram bem o tráfego pago, mas Massa demorou na pré-campanha. Sergio Massa tem o arquétipo do líder charme, é envolvente, carismático, comedido, mas herdou a tarefa difícil de levar adiante uma economia fragilizada. A Argentina vislumbrava um herói.

Milei e sua estratégia foi potente, no segundo turno fez valer o teorema do eleitor mediano, moderou o discurso comparado ao primeiro turno, soube usar o marketing digital, vendeu sua imagem, formou juízo de valor, construiu reputação, usou elementos emocionais, provocou conteúdos promocionais para formar juízo de valor por meio de narrativas com componentes visuais e emocionais. Fez o que é o ouro do digital, criou MOVIMENTO e COMUNIDADE entendendo seu público, sua persona. Massa chegou a 500 mil seguidores no Instagram enquanto Milei tem quase quatro milhões, uma comunidade recebendo conteúdo e multiplicando o sonho de um herói que salvará a Argentina.

As pesquisas de retal final do segundo turno mensuravam empate, e no empate confesso que eu torcia para o Massa por uma busca racional. Na ciência política existe uma teoria chamada de espiral do silêncio em que por constrangimento ou vergonha o eleitor omite seu candidato, por medo ou zombaria. Poderia ser para o Massa mesmo com a economia ruim, mas apesar da figura controversa e polêmica, o voto de protesto em uma campanha de construção de imagem assertiva a espiral deu vitória a Milei, com uma diferença maior do que se esperava nas pesquisas.

Se Milei conseguirá concluir seu governo é uma boa pergunta, do ponto de vista econômico, é certo que sua eleição é ruim para o Brasil e para o Mercosul.

Viva la democracia carajo!

Antônio Gianichini | é Sociólogo e especialista em Marketing Político, comunicação e planejamento estratégico eleitoral.

7 Respostas

  1. Um sociólogo escrevendo que o voto é paixão e não produto de uma escolha racional?
    É fato que a grande massa escolhe seus candidatos pela influência de outrem, pelo pensamento coletivo ou até de forma emocional. Concordo!
    Como é o seu voto, o da massa ou de um sociólogo?

      1. Com todo meu respeito, mas acredito que nem todo cidadão vota primeiramente com a paixão. Eu não voto assim e reitero que pra mim é estranho alguém da academia fazer essa declaração.
        Se eu fosse votar por paixão eu teria votado na Tronick porque ele é muito sexi e eu enlouqueço quando vejo ela falando.

        Então não meu colega. Voto com consciência e ensino meu alunos a justamente romperem com essa bolha e votarem com consciência.

        Primeiramente eu me apaixono e depois delego a razão a responsabilidade de explicar minha paixão?

        E uma pessoa apaixonada está de posse da razão para um julgamento sóbrio?

  2. Antônio muito bom o texto e o contexto.
    Excelente análise crítica do processo eleitoral.
    Podemos ver que o voto está saindo do cabresto dos coronéis, para o cabresto da internet, associando a isto ao emocional das pessoas, a rebeldia (transformadora) dos jovens e a mídia caricata dos concorrentes a um cargo.
    Isto mostra que, para o político propositivo, cada vez mais fica difícil romper está bolha.
    Infelizmente quem acaba perdendo é o próprio povo, pois, o mesmo, acaba decidindo seu voto tão somente pela emoção e não pela razão de um processo transformador e construtor da sociedade.
    Novos tempos, novos desafios…

  3. Antônio é muito bom o texto e o contexto.
    Excelente análise crítica do processo eleitoral.
    Podemos ver que o voto está saindo do cabresto dos coronéis, para o cabresto da internet, associando a isto ao emocional das pessoas, a rebeldia (transformadora) dos jovens e a mídia caricata dos concorrentes a um cargo.
    Isto mostra que, para o político propositivo, cada vez mais fica difícil romper está bolha.
    Infelizmente quem acaba perdendo é o próprio povo, pois, o mesmo, acaba decidindo seu voto tão somente pela emoção e não pela razão de um processo transformador e construtor da sociedade.
    Novos tempos, novos desafios…

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