Acordei cedo, como sempre, o som dos sabiás e uma chuva constante. Em meu conforto, seco, podendo trabalhar tranquilamente, pensei em meus amigos do Mato Grande e sua saga digna dos Caminhos das Águas, em Avatar.
É triste saber que está chovendo novamente e eles vão completar um mês alagados, sem o direito de ir e vir. E pior, sem perspectivas de melhoras. As doenças, que as águas misturadas com o esgoto podem trazer, os buracos escondidos como armadilhas, carros quebrados, caminhões circulando e jogando a água dentro das residências.
Existe uma mobilização dos moradores, mas as soluções são eventuais e feitas na base da pressão popular. O povo, que vive em um aquário urbano, já não sabe a quem recorrer. Eles estão sem esperanças de melhoras, a Prefeitura diz ter planos para casas de bombas decentes, mas é a longo prazo. Eles não podem mais esperar, é preciso soluções imediatas, locar bombas que deem a vazão necessária da fétida água que insiste em não baixar.
É preciso estreitar a relação população e poder público, sem politicagem, mas com um diálogo e compromissos cumpridos. Se as casas de bombas vão demorar, soluções para esse período se fazem necessárias. Não adianta dizer que choveu muito, pois, choveu em toda a cidade e nos outros bairros já não existem mais alagamentos. Que se ache uma solução, não esperar que os próprios moradores consigam maquinário e canos para fazer o que o poder público deve fazer.
O povo do Mato Grande está desassistido, usarei um comparativo, vejam nas fotos da abertura da matéria, hoje limpei meu aquário e constatem a diferença. Não fosse feita uma limpeza preventiva, certamente meus peixes pets iriam ficar doentes e morrer.
Dentro de um aquário os peixes fazem suas fezes e ficam restos de alimentação, a cada 15 dias costumo limpar. Meu aquário tem dois filtros e oxigenação d’água, ou seja, eles têm água e ar limpos para viver em seu ambiente.
Mas, e os moradores do Mato Grande?
Primeiro, eles não são peixes, são seres humanos que estão dentro de uma água suja e sujeitos a todos os tipos de perigo. Tipo, doenças infecciosas, buracos e armadilhas escondidas nos rios que se transformaram as principais vias da comunidade. Estão sem o direito de ir e vir para o trabalho, as crianças indo para as escolas sem o mínimo de condições dignas de locomoção. A Prefeitura colocou uma Van à disposição, mas a reclamação é grande do descumprimento dos horários combinados.
Eu, no conforto do meu lar, já limpei meu aquário e fico em orações para que os moradores do Mato Grande consigam sair da vida em um aquário urbano.
PS: estou convivendo com o problema dos moradores desde o início e fui um dos primeiros a denunciar o fato, sei o que eles estão passando.