Pois então, domingão, acordei só no mundo, como se fosse naquele filme Eu sou a lenda. Olho para a rua, são 8 horas da manhã, não tem uma viva alma, nem a beata passou para ir à missa. O tempo está frio e se preparando para a chuva, andar pelas alamedas nem pensar, hoje sou pura preguiça, com certeza, é ressaca da preguiça de ontem. Não fazer nada é muito cansativo, meu sofá tem problemas, com certeza tem, ele me engole por completo pareço Jonas que foi tragado por uma baleia, que só me solta para comer, é muita viagem, tenho que acertar o rumo, não irei ser vencido por um sofá.

Xô preguiça, será?

Já estou no terceiro café e ainda estou como a Lenda, ou seria lêndea? O sofá está me olhando com cara de desejo, que medo de ser novamente engolido. Pensei, vou escrever um texto bobo para o bobo leitor, brincadeirinha, não resisti.

Mas preciso me vencer, o maior guerreiro é aquele que vence a si mesmo.

Pera aí, vou na máquina fazer um cappuccino de doce de leite, pronto, arranjei mais um vício à preguiça.

Cadê o café passado, o bule, o filtro de pano e a chaleira de ferro velha? Gauchinho porqueira eu! Agora é a tal de cápsula, no meu tempo cápsula era do tempo, agora é um convite a preguiça, as máquinas fazem tudo para o sujeito, e ele, preguiçoso agradece.

– Não te mete Alexia, não estou falando contigo!

Que coisa, agora que lembrei, cappuccino tem leite, minha preguiça tem intolerância a lactose, preguiçoso que sou, só lembrei na quarta dose, já estou em over então, pois tenho leite até no nome.

Melhor fazer um chimarrão para dar energias, coisa de gaúcho, mas pera aí?

Tem que esquentar a água, cuidar para não deixar ferver, a fresca tem só que chiar…

…limpar a cuia, que deixei suja de ontem, cevar, ajeitas a bomba, não, melhor não.

Vou tomar outro café, a máquina está me sorrindo e o sofá com olhos de tarado.

Socorrrrrrrrrrooooooooo!

Preciso me vencer, tenho que limpar meu aquário, para isso a Alexia não se presta, estou negligenciando há dias, meus peixes respiram amônia pura, o filtro pede socorro. Estou parecendo um político que cuida do grande aquário. Tudo fica para depois, os peixes que morram com falta de comida em hospitais, a ganância imobiliária que acabe com nossa fauna e mananciais, se tem alguma dúvida de uma passada na Açucena no Bairro Moinhos de Vento, parece o filme dos Senhor dos Anéis, os Orks devastaram o último resquício de fauna e flora que ali existia. Sim, mais uma vez, a destruição da vida dará lugar para um lindo condomínio. Ninguém se importa para onde foram os animais que ali habitavam, estão mais preocupados com afortunados “pets”, nada contra, eu mesmo adoro animais, sejam eles domésticos ou não.

Por isso, vou vencer o sofá baleia, vou fazer um chimarrão e limpar meu aquário, os peixes não pediram para vir para cá, fui eu que os trouxe. Poderia larga-los nos lagos do Capão do Corvo, é aqui pertinho, mas soube que nem lago temos mais, ele foi tomado por aguapés, e os responsáveis fazem planos, enquanto a vida agoniza por debaixo dos aguapés.

Ainda ontem, vi um guarda do Capão do Corvo, salvando uma tartaruga. Ela estava indo ao Park Shopping Canoas e, corria o risco de ser atropelada, deveria estar procurando a água dos lagos artificiais do shopping, visto que o lago da águas dançantes está vazio.