Cozinhar, exercitar-se e atender o público era o que a vendedora Jaqueline Contimos de Freitas, de 45 anos, mais gostava de fazer antes da chegada do vírus que adiaria seus planos. Há quatro anos, em março de 2020, foi registrado o primeiro caso do coronavírus no Rio Grande do Sul. Passados dois anos do início da pandemia, a dona de um food truck deu entrada na UTI do Hospital Nossa Senhora das Graças, em Canoas, na mesma semana que a filha de 18 anos foi internada pelo mesmo motivo. Apenas a comerciante resistiu e precisou encontrar forças para se recuperar das sequelas da covid mesmo lidando com a dor da perda.
“Cheguei aqui igual a boneca de pano Emília, toda remendada, sem me mexer. Os médicos diziam que eu não resistiria. Quando acordei, descobri que tinha perdido minha única filha”, relembra. A paciente ficou aproximadamente 48 dias internada em estado grave na UTI por conta da Covid-19, necessitando de intubação e traqueostomia. Após a alta, foi encaminhada para o Ambulatório de Fisioterapia ainda com o uso de cadeiras de roda por não conseguir se locomover, nem falar, nem ver.
Atualmente, quase dois anos depois, caminha com ajuda de andador, consegue se expressar claramente e enxerga o que estiver por perto, como o rosto do fisioterapeuta Marcio Ramos Laguna. “O Márcio me devolveu a vida. Queria que minha filha tivesse a mesma chance de fazer fisioterapia e viver comigo. Eu faço também por ela, sei que queria que eu me recuperasse”, comenta Jaqueline com lágrimas nos olhos.
A gratidão entre a moradora do bairro Harmonia e a equipe de profissionais do HNSG é recíproca. “Para nós, é uma alegria total ter a possibilidade de contribuir no período mais difícil da vida de um paciente. É um trabalho em conjunto, mas se não fosse o empenho dela nada disso teria acontecido”, reforça Marcio. Agora, o esforço de ambos os lados persiste para que ela recupere a visão para longe, já que sonha em tirar a carteira de motorista para voltar a ter independência.
Revitalização do Ambulatório Pós-Covid – Com a diminuição dos casos graves da doença, o Ambulatório Pós-Covid foi remodelado para um Ambulatório de Fisioterapia em dezembro do ano passado. O local proporciona mais de 200 atendimentos pelo SUS, como o da Jaqueline, e aproximadamente 100 atendimentos via convênio, mensalmente.
O espaço busca oferecer atendimento especializado aos pacientes que passaram por internação no Graças ou que realizam tratamento ambulatorial em outras especialidades, como pós-operatórios de traumatologia, pacientes que enfrentaram AVC e outros quadros clínicos resultando em sequelas respiratórias e motoras.
Texto: Felipe Conte – Hospital Nossa Senhora das Graças
Edição: Clarissa Colares