Um Filme de BR encerra trilogia documental de Wender Zanon sobre as transformações urbanas em Canoas

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O diretor e produtor cultural Wender Zanon lança seu novo documentário, ”Um Filme de BR”, no próximo dia 27 de setembrosábado, às 17h, no Sesc Canoas, e em 08 de outubroquarta-feira, às 19h, no Cinema Capitólio, em Porto Alegre. Encerrando a trilogia dedicada às transformações urbanas de Canoas, o filme acompanha quatro pesquisadores que percorrem a BR-116 em seu trecho que atravessa a cidade, em busca de personagens cujas vidas se entrelaçam com a rodovia.

A BR-116 —  a segunda maior rodovia nacional (a mais extensa é a BR-101) —  liga Fortaleza (CE) a Jaguarão (RS), na fronteira com o Uruguai, e, ao passar por Canoas, corta o território como uma fissura que divide a cidade em duas partes. Entre encontros e relatos, o documentário apresenta depoimentos de indivíduos que compartilham suas histórias marcadas pela convivência diária com a estrada.

Com ”Um Filme de BR, Wender Zanon encerra uma trilogia documental iniciada em 2021 e dedicada a refletir as transformações urbanas de Canoas. No primeiro filme, “This is Canoas, not Poa”, o diretor mapeou a cena musical local, mostrando como diferentes gerações de roqueiros criaram espaços próprios para afirmar sua identidade cultural diante da dominação simbólica exercida pela capital, Porto Alegre. No segundo, “Ensaios sobre uma Cidade” (2022), voltou-se ao monumento do avião — principal símbolo de Canoas e localizado justamente na BR-116 — para questionar tanto sua centralidade na representação da cidade quanto os processos de militarização associados a ele. Agora, em ‘Um Filme de BR” (2024), a narrativa se desloca para a própria rodovia, revelando como a estrada que liga cidades, passa por Canoas e a divide.

 

Uma caminhada pela BR-116

Mais do que retratar a rodovia em si, “Um Filme de BR” toma a BR-116 como dispositivo para alcançar histórias de vida — foco central do documentário. Em relatos orais de moradores, trabalhadores e transeuntes, emergem memórias individuais e coletivas atravessadas pela estrada. “É um filme de conversa, um tributo ao cinema de Eduardo Coutinho”, afirma Zanon.

Segundo o diretor, é um filme de conversa que presta um tributo ao cinema de Eduardo Coutinho. “Existem muitas referências que movem este trabalho, mas uma referência bem central e que está desde o inicio da semente da ideia do filme era horizontalizar o Edifício Master do Coutinho, no sentindo de que lá o diretor filmava um condomínio, aqui filmamos uma rodovia repleta de significados, que de alguma forma é associada com a cidade, com o seu desenvolvimento e também com os nossos desenvolvimentos como comunidade e individuais”, destaca.

A inspiração em Coutinho também orienta o método: durante dois meses, quatro pesquisadores (as) caminharam pelo trecho da BR-116 em Canoas em busca de personagens e experiências. O gesto da caminhada — nascido da escolha de um recorte geográfico e de suas limitações — funciona como regra autoimposta que libera a criação. Como sintetiza o diretor, lembrando uma ideia de Coutinho: impor limites pode abrir um campo de liberdade.

Ao longo do percurso, surgem 17 personagens que compartilham histórias de trabalho, afetos, perdas, violências e rotinas muitas vezes invisíveis. São narrativas de pessoas comuns, que frequentemente passam despercebidas no fluxo acelerado da rodovia, mas que revelam o tecido social que se costura à sua margem.  Suas trajetórias, registradas em entrevistas e relatos orais, revelam a ambivalência entre o ritmo acelerado do trânsito e o cotidiano mais lento das comunidades locais.

 

Contradições e humanidade

Segundo Zanon, o filme faz emergir pautas contemporâneas — e persistentes — como a jornada exaustiva de trabalho, que restringe a profissionalização e o cuidado de si, e assume suas próprias contradições estéticas e narrativas. As histórias trazem dualidades profundamente humanas: viver é se expor, e nem sempre as coisas acontecem como planejado — e tudo bem.

Para Zanon, o incentivo público foi decisivo para afirmar Canoas como potência narrativa. Segundo o cineasta, a Lei Paulo Gustavo injeta força criativa e econômica nos municípios, movimenta a cadeia cultural, gera renda e histórias, e ajuda a revelar a beleza em espaços muitas vezes marcados pelo abandono. “Cabe a nós, artistas e trabalhadores da cultura, propor vida, ocupar esses lugares e encontrar suas histórias. São os nossos lugares, onde construímos afetos e vivemos nossas vidas”, observa o diretor, lembrando que cidades antes vistas como “dormitórios” já se transformaram em outra coisa há muito tempo.

Da cena cultural ao espaço urbano, passando pela rodovia que divide e conecta, os três documentários de Zanon desenham um retrato da Canoas contemporânea — uma cidade que se reinventa, preserva memórias e enfrenta novos processos de segregação e gentrificação.

FICHA TÉCNICA

Projeto realizado com recursos da Lei Complementar nº 195/2022.

O Ministério da Cultura, Secretaria da Cultura de Canoas, Grupo TIA e Zender Produção cultural apresentam UM FILME DE BR.

Direção: Wender Zanon
Produção: Mariana Abreu e Wender Zanon
Assistência de produção: Bárbara Velasque, Luiz “Cisco” Zanovello, Marcelo Militão e Vitor Cunha.
Pesquisa: Bárbara Velasque, Eloísa Batista, Júlia Tarragó e Vitor Cunha.
Direção de Fotografia: Daniel Candido de Bem, Bárbara Velasque, Eloísa Batista, Júlia Tarragó e Vitor Cunha.
Montagem: Daniel Candido de Bem
Correção de cor: Vitor Cunha
Som direto: Ivan Lemos
Trilha sonora: Marcelo Armani
Pós-produção de áudio: Jonas Dalacorte
Foley: Ivan Lemos e Daniel Candido de Bem
Design gráfico: Jéssica Nakaema
Fotografia still: Lucia Marques
Assessoria de imprensa: Silvia Abreu
Tradução e legendas: Thays Prado
Audiodescrição: OVNI acessibilidade universal
Intérprete de libras: O Estranho
Apoio: Arquivo Histórico Municipal de Canoas, Biblioteca Pública Municipal João Palma da Silva, Museu Municipal Parque dos Rosa Legumansa, Locall e Real Serigrafia

SERVIÇO

Lançamento do documentário “Um Filme de BR”, de Wender Zanon

Dia 27 de setembro de 2025, sábado, 17h

Sesc Canoas – Av. Guilherme Schell, 5340

Entrada franca

Dia 08 de outubro de 2025, quarta-feira

Cinemateca Capitólio – Rua Demétrio Ribeiro, 1085 – Centro Histórico, Porto Alegre

Entrada franca

 

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