Vereadores de Canoas pressionam Leite por repasse de verbas para obras de contenção

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A mobilização, organizada pela Câmara de Vereadores partiu da sede do Legislativo municipal por volta das 13h, em três ônibus

Em protesto simbólico e com tom de cobrança direta ao governo estadual, vereadores de Canoas se deslocaram nesta terça-feira (6) até o Palácio Piratini, em Porto Alegre, para reivindicar o repasse de recursos destinados à continuidade das obras nos diques da cidade. A mobilização, organizada pela Câmara de Vereadores e acompanhada por representantes da comunidade, partiu da sede do Legislativo municipal por volta das 13h, em três ônibus cedidos pela empresa Sogal.

A comitiva levou em mãos um documento endereçado ao governador Eduardo Leite, solicitando uma agenda com o chefe do Executivo estadual e pedindo que os valores já disponíveis no fundo estadual sejam repassados imediatamente à Prefeitura de Canoas. O ofício é assinado pelos 21 parlamentares da Casa e formaliza um convite para que o governador compareça ao município em data a ser definida, com o objetivo de acompanhar de perto o andamento das obras dos diques e discutir a liberação de verbas. “A visita do Chefe do Executivo Estadual é de suma importância diante da urgência das intervenções necessárias para garantir a proteção das famílias que vivem em áreas de risco, especialmente frente aos recentes eventos climáticos que têm afetado a região”, diz um trecho do documento.

Segundo o presidente da Câmara, vereador Eric Douglas (União Progressista), a iniciativa foi construída de forma conjunta entre os parlamentares e não tem autoria individual. “Pra nós é importante essa ida de todos os vereadores, não é uma proposta de nenhum vereador, é de todos os vereadores junto com a comunidade. Já tem a questão do fundo, e a Prefeitura de Canoas se enquadra nesse fundo. O dinheiro tá lá, então esse dinheiro tem que vir o quanto antes pra nós dar prosseguimento às obras do nosso dique, pra gente ter segurança”, afirmou. Eric destacou ainda que a comitiva levou um pedido formal solicitando a presença do governador em Canoas. “Toda a tragédia que teve aqui ele não veio. E é importante ele vir ver como está o nosso município e como estão andando as obras que já existem aqui”, completou.

Embora o grupo não tenha sido recebido diretamente pelo governador, os vereadores foram atendidos pela chefe de gabinete da Casa Civil, Catia Belmonte, que recebeu o documento oficial em nome do governo estadual. A interlocução, segundo os parlamentares, serviu para reforçar a urgência do repasse e a necessidade de presença institucional do Executivo em Canoas.

Da oposição, o vereador Emílio Neto (PT), criticou a falta de diálogo por parte do governo estadual e apontou obstáculos à manifestação: “A Câmara de Vereadores, os 21 vereadores, estão aqui em frente ao Palácio Piratini. Ainda não fomos recebidos pelo governador Eduardo Leite, que inclusive colocou policiais lá para impedir que o ônibus chegasse com os vereadores e sua assessoria. O que a gente quer? Só entregar esse documento para o governador e dizer: se o governo Lula já deu o dinheiro e já está aqui no Estado, por que não liberar o dinheiro para Canoas, para que possamos subir os diques e a população possa dormir descansada?”. O parlamentar também ironizou a demora na liberação dos recursos federais: “Tem 3 bilhões de reais que o governo federal mandou para cá e o governador Eduardo Leite não manda. Será que ele quer comprar um aviãozinho com esse dinheiro?”.

Além da ida ao Palácio Piratini, os vereadores e representantes da comunidade, entre eles, moradores atingidos pelas enchentes, também participaram de uma agenda extraordinária na Assembleia Legislativa. A comitiva foi recebida pelo presidente da Casa, deputado estadual Pepe Vargas (PT), que acolheu a demanda e propôs uma articulação institucional para pressionar o Executivo estadual pela liberação das verbas. “É compreensível que tu esteja emocionado e esteja, obviamente, enfático, porque de fato o tema é importante. Eu já fui vereador, sei o quanto é difícil ser vereador, o quanto o vereador está no dia a dia, mais próximo da população do que deputado, governador ou senador”, comentou. Como encaminhamento, Pepe pediu que o documento também fosse protocolado na Assembleia. “Eu vou repassar esse documento ao governador, ao chefe da Casa Civil e a todos os 55 deputados estaduais. Vamos pedir uma reunião com a Casa Civil, com representação da Câmara e da Prefeitura, para discutir esse assunto”, afirmou. Ele destacou ainda os recursos federais disponíveis para o Estado: R$ 6,5 bilhões para obras de proteção e mais R$ 14 bilhões no fundo de reconstrução.

O vereador Heider Couto (PL), vice-líder do governo na Câmara, destacou o caráter coletivo da mobilização e elogiou a condução da presidência da Casa. “Fico muito feliz, no primeiro mandato, já ter essa responsabilidade de ser vice-líder do governo. Essa é, sem dúvida, uma das principais ações de todos os vereadores, e quero parabenizar em especial o presidente Eric Douglas, que está liderando não só essa, mas várias iniciativas importantes”, afirmou. Heider defendeu que a mobilização transcende questões partidárias e reforçou que os trâmites legais para o repasse já foram cumpridos. “O governo federal já fez sua parte. O dinheiro está na conta do Estado, e o fundo municipal foi criado e aprovado conforme exigência do próprio governo estadual. O que falta agora é apenas um clique: a autorização do governador. A gente não precisa de todo o valor repassado ao Estado, só de uma parte, para resolver a situação de mais de 170 mil pessoas afetadas”, concluiu.

Já o vereador Jefferson Otto (PSD), também da oposição, reforçou o caráter suprapartidário da mobilização, mas criticou a condução da Prefeitura e cobrou responsabilidade compartilhada entre os três entes federativos. “O princípio é que é um movimento suprapartidário, independentemente de questões ideológicas, partidárias, base ou oposição. Mas da minha parte, eu sempre vou cobrar responsabilidade, que é subsidiária. Tem que ter a responsabilidade da Prefeitura, do Governo do Estado e do Governo Federal”, afirmou. Para ele, o cenário político pré-eleitoral pode estar influenciando na lentidão do processo. “No ano que vem tem eleição, isso talvez esteja atrapalhando um pouco essas questões. Mas tem que sentar e deixar as diferenças de lado. O momento é de pensar na proteção, nos diques de contenção, sobretudo para que nunca mais a gente tenha um evento climático extremo como o do ano passado”, disse. Ele também criticou a dependência da Prefeitura em relação aos repasses: “A Prefeitura arrecada mais de 2 bilhões de reais por ano. Não pode estar sempre com o pires na mão, pedindo dinheiro. É fato que existem recursos federais aguardando liberação, mas também é preciso saber: todos os projetos da Prefeitura estão prontos e corretos? Isso é parte do diálogo que viemos fazer aqui”.

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