Leio muitos jornais na madrugada, sou observador, sempre noto as coisas e a importância que elas impactam a sociedade pelo número de notícias veiculadas nos veículos de comunicação do País.
Dito isto, a tragédia do Rio Grande do Sul, foi, por cerca de um mês, o principal fato noticioso no Brasil e em nossos jornais locais. Eram páginas e páginas, hoje não mais. Assim como nos jornais, a tragédia das águas vai se tornando uma tragédia pessoal e íntima, as pessoas irão se reconstruir, mas a solidariedade ficará cada vez mais rara. Os heroicos voluntários irão cuidar de suas vidas, os abrigos irão ser fechados, a notícia irá acabar. As coisas irão ficar nas histórias contadas pelos alfarrábios e serão apenas lembranças, deixando cada família com suas tragédias pessoais seguirem só e com o apoio governamental, as campanhas de doações e filantropia irão ficar cada vez mais raras. É cruel o que digo, mas podem acreditar, a ajuda tem prazo de validade. E, não é por desumanidade. Apenas as pessoas, que foram heróis em ajudar, terão que voltar para suas vidas e seus cotidianos.
Em minhas leituras descobri uma tragédia histórica, em novembro de 1980 na localidade de Sorrento/Itália, um terremoto matou 3 mil pessoas e mais de 300 mil desabrigados.
O autor do artigo, o sociólogo Renato Steckert de Oliveira, relata que, “até então, a Itália estava sectariamente dividida entre comunistas e democratas-cristãos, além de sofrer os rescaldos do terrorismo. De repente, democratas-cristãos se viram arriscando suas vidas para salvar comunistas em meio aos escombros do terremoto e vice-versa. Isto, concluiu, foi fundamental para recompor o ambiente político do país”.
E aí o pensamento nos traz para a Aldeia, como recompor o caótico sistema político de nossa cidade em meio de uma tragédia e na solidariedade, que foi despertada na sociedade, é preciso tirar lições disso tudo né?
Mas aqui não temos tempo para aprender lições, a ganância pelo poder é muito maior, políticos não são solidários, pelo menos aqui não e se fazem, é por tirar vantagens em cima do fato.
O nome seria oportunismo, e o sociólogo continua, “um substrato de identidade comum a uma coletividade, identidade que só pode ser o resultado de uma história vivida em comum, apesar de todas as divergências e conflitos, e sobre a qual se processam os acordos e as tomadas de decisões políticas. Isso estava sendo perdido pelos italianos, e um terremoto os despertou”.
Em nossa Aldeia o “dessolidarizar” fala mais alto, não somos uma sociedade politicamente amadurecida, temos políticos que fogem de seus compromissos e oportunistas de ocasião amantes de tragédias para tirar vantagens. Aqui, infelizmente, deixamos há muito de mostrar solidariedade, nem com os exemplos vindo de todo o País aprendemos algo sobre ser solidários.
Claro, que é importante não fazer vistas grossas para o que aconteceu na Aldeia, tem que responsabilizar as irresponsabilidades das autoridades envolvidas em defesa da comunidade atingida pela maior tragédia de nossa história.
Devemos ter ciência que a cidade precisa da ajuda de todos, mirem-se no exemplo dos italianos de Sorrento.
Canoas precisa reencontrar sua identidade, se é que algum dia teve, é preciso recompor o quadro político da cidade. Que a tragédia das cheias nos traga a clarividência e nos mostre que confrontos não trazem soluções, à solidariedade sim.
Mas não é isso que está acontecendo por aqui, a guerra política não quer saber da reconstrução, eles estão interessados no pleito. E não falo só da oposição, são todos.
As águas baixaram, mas, não pensem que a tragédia passou. Agora é que os problemas maiores irão aparecer, repito, o voluntariado e a solidariedade de quem veio de fora irá acabar, por um motivo simples, as pessoas têm que voltar para seus lares pelo país e tocar suas vidas.
Agora é conosco, com políticos e sociedade organizada que iremos nos reerguer e ajudar nossos moradores seriamente atingidos pela fúria das águas, é por eles que devemos lutar, e eles vão precisar, podem ter certeza disso.
Ou, como finaliza o sociólogo Renato, “a questão é saber onde vamos encontrar nossa identidade comum como sociedade, recompondo nossa vida política e dando perenidade à solidariedade que a tragédia das cheias despertou. Ou, talvez, nem bem baixadas as águas, não nos reste outro caminho senão o confronto e a violência de sempre”.
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*Fonte de pesquisa | Artigo Renato Steckert de Oliveira
Ex-secretário de Estado de Ciência e Tecnologia do RS, sociólogo e professor da UFRGS, Jornal do Comércio | RS
Foto Lauro Alves | Secom RS
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FATO DO DIA
“A mentira continuará a ser duramente combatida. O ilícito será investigado e, se provado, será punido na forma da legislação regente. O medo não tem assento em alguma casa de Justiça”.
Ministra Cármen Lúcia | Presidenta do Tribunal Superior Eleitoral
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Uma Resposta
Em Canoas os políticos em vez de pensar de verdade no povo q está fragilizado e lutar pelo resgate da dignidade desta população, estão brigando pelo poder… Aldeia!