EM CIMA DO FATO | Canoas presta homenagem aos Heróis Voluntários da enchente de maio de 2024

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Hoje, terça-feira (26), às 10h30, é um dia de reconhecimento e agradecimento aos voluntários heróis que se deslocaram de todos os cantos do País e do Exterior para resgatar vidas nas enchentes de maio de 2024.

Quem não lembra das águas que ocuparam todo o lado oeste da cidade e deixaram milhares de pessoas ilhadas e precisando de socorro imediato?

Isso causou uma romaria de heróis que para cá se deslocaram, deixaram o conforto de seus lares e passaram dias resgatando vidas, trazendo roupas, comida e, principalmente, acolhimento para quem tudo havia perdido. São esses heróis que hoje recebem uma homenagem de reconhecimento e agradecimento.

Para deixar marcado na memória da cidade, o poder Executivo, está inaugurando uma obra, instalada na Praça J C Nozari, junto à BR-116 e próximo à estação Mathias Velho da Trensurb, no Centro.  O local foi ponto emblemático de mobilização das ações de salvamento durante os primeiros momentos da enchente. A Banda de Música da Base Aérea de Canoas participará do evento com uma apresentação para a comunidade.

PARA LEMBRAR

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O Monumento aos Heróis Voluntários começou a ser construído no dia 2 de maio de 2025, um ano após o desastre ambiental. A obra é uma criação do escultor Ricardo Cardoso, natural de Pelotas e radicado em Porto Alegre desde 1967. Com ampla experiência em esculturas em metal, Cardoso é conhecido por integrar técnica e expressão artística em peças de diversos formatos. Sua trajetória é marcada por décadas de atuação com o ateliê Ferro & Fogo, fundado em 1994.

O monumento foi idealizado, executado e instalado por ele na orla do rio Guaíba, em dezembro de 2024, e foi replicado em Canoas como símbolo de gratidão permanente. A iniciativa foi viabilizada com recursos de diferentes esferas. O monumento teve custo de R$ 365 mil, financiado pela Corsan. A Prefeitura de Canoas investiu R$ 120 mil na revitalização do entorno da praça, e o Via Atacadista ofereceu apoio de R$ 20 mil e também contribuiu com melhorias na área de acesso.

PARA LEMBRAR

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O prefeito de Canoas, Airton Souza, destaca que o monumento é uma representação da gratidão da população canoense com todas as pessoas que ajudaram a comunidade e a cidade na maior tragédia climática da história do Município. “Recebemos ajuda de mais de 10 mil pessoas que vieram de todas as regiões do Brasil naquele momento difícil”, comenta o prefeito. “Este monumento é para nós lembrarmos não da enchente, mas das pessoas que foram benevolentes com nós, canoenses. Criamos este monumento para homenagear as pessoas que se sensibilizaram com a nossa dificuldade, com a nossa necessidade”.

PARA LEMBRAR

Será um longo tempo de reconstrução, sem tempo para os “abobados da enchente política”

O vice-prefeito Rodrigo Busato ressalta a solidariedade da população após o desastre foi, e ainda tem sido, essencial para a reconstrução da cidade e restabelecimento das famílias canoenses. “Esta é uma homenagem a cada pessoa que ajudou e ajuda a população da nossa cidade nos dias do desastre, nos tempos de necessidade e neste momento de reconstrução. Canoas é grata a toda a solidariedade que recebeu e está se reerguendo e se reconstruindo com muita responsabilidade e otimismo”.

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RECORDANDO O PASSADO

Canoas, suas canoas e suas enchentes

O município tem em seu nome, o meio de transporte utilizado para navegar nos rios. Embora cercado pelos Rios dos Sinos e Gravataí, e Arroios Sapucaia e da Brigadeira, sua origem se dá muito por conta de um desastre natural, que assolou seu território, pelo menos três vezes em proporções alarmantes, as enchentes. A primeira, a inundação de 1873, atingiu toda região metropolitana atual e capital. Conforme os anais da Câmara, essas zonas ficaram submersas, atrasando assim a construção da estrada ferro, que cortava a Fazenda Gravataí, ligando Porto Alegre e São Leopoldo.

Desta catástrofe, surgiu, de acordo com depoimentos publicados na obra de João Palma da Silva, o primeiro nome referenciando a estação que fora construída. Sua menção devido à construção de algumas canoas, que foram utilizadas e depois com o baixar das águas, abandonadas próximo de um capão. Surgindo assim a origem do Capão das Canoas.

A segunda enchente que atingiu Canoas, já emancipada, foi em setembro de 1941. Diante dela, a administração municipal decretou a transferência dos moradores residentes nos locais alagadiços para uma área mais saudável, que eram as terras mais altas da cidade, de propriedade de Décio Rosa. Vale lembrar que em 1931, ainda como distrito de Gravataí, foram autorizados a criação de loteamentos em terrenos da várzea junto ao Rio Gravataí. Essa área, caracterizada por um terreno classificado como prado úmido, sujeito ao fenômeno de enchentes periódicas, originou os Bairros Niterói, Industrial e Rio Branco. Nos anos de 42 e 43, o poder público decretou a construção da Vila Popular Mauá, um projeto arquitetônico e urbanístico do engenheiro Rui Viveiros Leiria, que por questões politicas e desacordos, ficaram no papel, o que ocasionou frustrações nos moradores atingidos pelos problemas das enchentes.

A terceira enchente assolou a década de 60, e fez com que a administração municipal, tomasse como prioridade, criar uma estratégia que sanasse o problema das inundações. Para isso foram construídos diques de contenção, nos bairros que faziam limites com os Rio Gravataí e dos Sinos e instaladas casas de bombas para transbordo. Essa medida já era noticiada pela imprensa local, da época desde 1949, mas só se tornou realidade, a partir da década de 70. A partir dessas medidas, diminuiu, de certa forma, a fragilidade que os moradores das áreas atingidas pelas enchentes sofriam. Para isso, era necessário manutenções periódicas nos equipamentos e uma conscientização da população em relação ao descarte de lixos em via públicas.

Além dessas medidas, foi decreta uma lei que não permitia construções de prédios para residências sob o dique de contenção e em área entre os diques e os rios dos Sinos e Gravataí, não sendo liberado licença para as mesmas, o que, em grande medida, não se confirmou. As áreas que foram desapropriadas para a construção dos diques de contenções foram ocupadas para construção de residências, ainda na década de 70, formando nesse local núcleos suburbanos irregulares. As enchentes atuais ainda atingem o município, a Praia do Paquetá, ainda sofre com as inundações, em destaque a enchente de 2015, com a região ribeirinha tentando proteger-se com sua arquitetura de casas palafitas.

Edison Barcellos da Rosa | Historiador e pesquisador

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