Texto do ano de 2008
Levantei cedo, aliás como sempre faço. Mandei mensagens a quem interessar possa, levei o “auto” para lavar, fui tomar meu café na Padaria Santa Isabel — um hábito diário —, e lá encontrei o meu amigo Ângelo Baldo, seu filho Giovane e sua neta Giordana.
Sempre que encontro velhos amigos os assuntos são a minha coluna no Jornal O Timoneiro e como está a minha caminhada de recuperação da dependência química.
As considerações do Seu Baldo, que não é um dependente, são iguais a de muitos — que não entendem as nuances e os altos e baixos de alguém que passou e passa por esse processo.
Resolvi então contar uma pequena história para o Seu Baldo, como segue:
— Seu Baldo, eu sou um criador de monstros!
— Como assim? Disse Seu Baldo.
— É o seguinte, quando criança, em Uruguaiana, na casa onde eu morava existia uma claraboia e também bananeiras em nosso quintal.
— Meu pai, Seu Vilmar, costumava cortar os cachos de banana e colocar neste local para elas amadurecerem.
— Ocorre que em dias de lua cheia o efeito era assustador e eu criava meus monstros imaginários e também meus medos.
— Portanto, Seu Baldo, por criar monstros e com medo desisti de ousar e ter a coragem de ir em frente.
Enfrentando os monstros
A história é verdadeira. E ainda hoje tenho criado meus monstros, e por medo contínuo sem coragem.
Como passei anestesiado 33 anos de minha vida, procurando a coragem na fuga das drogas e do álcool, ainda sou o menino da claraboia.
Mas tenho crescido muito e já não vejo o monstro como um inimigo. Vejo-o como um desafio, e cada vez mais tenho coragem de enfrentar isso.
Alguém me disse que devo tomar coragem e definir muitas coisas que estão “estacionadas” em minha vida. Que devo me libertar e dar a liberdade.
Deixar de ser um egoísta é uma delas. É na compreensão da individualidade do outro que se pratica a alteridade, se passa a caminhar juntos ou separados. Não sou eu que decido isso, é a vida.
De agora em diante quero criar monstros novamente e ter a coragem de enfrentá-los, pois não é me escondendo deles que poderei me tornar uma pessoa melhor.
Que esses monstros imaginários possam me trazer também os sonhos de dias melhores.
Afinal, quem não tem seus monstros que atire a primeira pedra.
Eu não nego meus medos, sou fraco e forte ao mesmo tempo. Por vezes, lá estou me escondendo de novo.
Mas, para isso, também recorro ao recado de quem é só coração. Ouço o sussurro baixinho, me lembrando das coisas, me encorajando nas decisões e me dando força.
O recado foi ouvido com clareza e vou colocar na mão de meu Deus. Ele me dará as possibilidades, mas as escolhas e o caminho só eu posso decidir.
IMPORTANTE
Este é um dos muitos textos sobre recuperação da dependência química e do álcool que escrevi durante os 20 anos de minha caminhada rumo a sonhada sobriedade. Não sei se alcançarei, sobriedade é muito mais que parar com o uso do álcool e das drogas, mas estou no caminho certo. O projeto é um livro, ele vai sair, se possível, lançado na Feira do Livro de Canoas ainda este ano.
Por enquanto, todos os domingos irei colocar um dos textos em nosso site, se ajudar alguém que estiver procurando ajuda, já estarei gratificado.
BOM DOMINGO PARA TODOS!


















