Monumentos em Canoas e suas relações com a cidade

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Edison Barcellos
Historiador e Pesquisador

 

Afins de conceito, por monumento, no sentido mais amplo e original do termo, se entende, em grande medida, por uma obra criada pelo homem e edificada com o objetivo de conservar presente a lembrança de uma ação ou de personagens ilustres.

A arquitetura monumental, vista como suporte de memória, está espalhada por todas as cidades do mundo, com seus significados, com suas importâncias e seus contextos históricos relacionados aos locais onde estão instalados, transformando e formando a estética das paisagens dos espaços urbanos.
Mas como se define a construção de um monumento? Quem decide o que será homenageado? Os monumentos são representados pela população? E a conservação dos monumentos, de quem são a responsabilidade, visto serem considerados patrimônios públicos e culturais? Tratando-se de Canoas, os canoenses conhecem os monumentos das cidades? Sabem sua história e onde se localizam?

Diante disso através de várias pesquisas, listarei algumas dessas representações artísticas espalhadas pela cidade.

Os canoenses cultuam monumentos desde o início do século XX, o primeiro que se tem registro, foi construído em 1909 em homenagem a iniciativa de Victor Barreto da Oliveira pela construção da primeira estrada ligando a localidade, ainda conhecido como Capão das Canoas, à Porto Alegre. O monumento foi instalado na referida via, junto a Rua João Pessoa. No final dos anos 70, ele foi modificado da sua forma original e transferido para junto ao Arroio Araçá, onde permanece até os dias de hoje. Naquela época, ainda sem o viaduto da Rua Doutor Barcelos, o monumento ficava vistoso junto ao arroio, porém com a construção do viaduto, ficou totalmente escondido e quase que impercebível. Em 2017, iniciou-se um movimento da classe artística e literária para que ocorresse sua transferência para um local mais acessível, no entanto nada foi realizado.

Após a emancipação na década de 40, três monumentos são construídos dentro das sedes de instituições distintas já instaladas no município. No Instituto São José, a escultura de São João Batista rodeada pelas crianças que representam os continentes, no Regimento de Aviação, O Globo e no Instituto Pestalozzi o busto do patrono foi instalado em um pedestal em frente à escola.

Em 1960, o primeiro busto da cidade é instalado no saguão da nova prefeitura, o monumento de bronze de Getúlio Vargas que primeiramente seria instalado na Praça da Emancipação junto a Carta Testamento, por questões políticas foi transferido de local. A Carta Testamento em bronze foi instalada dois anos após, sendo furtada nos anos 90. A propósito, a grande maioria das esculturas e placas em bronze foram furtadas nessa época.

No ano de 1968, tivemos a instalação talvez do monumento mais significativo do município, pelo menos no que diz respeito a ponto de referência. O caça F8 Gloster Meteor é fixado na Praça Cinquentenário LaSalle e Canoas ganha de fato um cartão de visitas.

No mesmo ano o sino doado ao prefeito Lagranha, foi instalado na Praça Emancipação em homenagem à Princesa Isabel, diante de uma visita sua na localidade, aonde conforme algumas defesas de pesquisas, a monarca teria tocado o referido sino. Nos anos 90, o monumento foi retirado do local por segurança. Atualmente está no acervo do museu municipal.

Na década de 70, os canoenses ganham mais um cartão postal, em 1973 foi inaugurado as Taças da Corsan, um reservatório de água com objetivo de melhorar o abastecimento da região e devido sua estética torna-se referência em localização geográfica no município.

Em 1977, com a renomeação da Praça Cinquentenário La Salle para Praça Santos Dumont, passa a compor o cenário um busto de bronze sobre uma base de concreto do pai da aviação, sendo também furtada anos depois. Nos anos 90, outro busto de concreto foi novamente instalado.

No final da década de 70, foi inaugurada a Praça da Bíblia, e nela foi instalada uma placa de bronze na forma do livro sagrado, com as frases “Ame a Bíblia” e “Ame o próximo”, monumento que também desapareceu. No seu lugar, depois de revitalização da praça, foi instalada uma Bíblia de mármore.
Nos anos 80, seis novos monumentos são agregados no cenário urbano canoense.

Em 1980 para comemorar os 300 anos do início dos trabalhos lassalistas na educação foi construído o pórtico de entrada do Colégio La Salle, formando naquele ambiente, junto ao Túnel Verde, Via Sacra e Calvário um local aprazível para os visitantes.

Um ano após, a rota dos monumentos sai da área central, por vez, o homenageado foi o colonizador das terras onde se encontra o município de Canoas, o monumento à Francisco Pinto Bandeira foi erguido em uma praça no Bairro Estância Velha e outro busto de Getúlio Vargas foi instalado na inauguração do parque que leva seu nome, antigo Capão do Corvo.

Em 1982, mais um busto de Santos Dumont é instalado na sede do Comando Aéreo. Em 83, inaugura-se a Praça da Imprensa e nela foi instalada um monumento em homenagem ao ofício.

Em 1986, após a entrega da Antiga Estação de Trem ao município e a criação da Fundação Cultural de Canoas foi criado um largo em seu entorno e foi instalado dois monumentos, o ” Origens” do artista plástico Vinício Cassiano e o “Enxadrista” do artista Barnabé Darcy Garcia. Nos anos 2000, o busto de Fioravante Milanez também passa a compor o cenário.

Na década de 90, o artista plástico Arno Francisco da Silva cria o monumento ” Cinquentenário de Emancipação Política de Canoas”, um espiral de ascendente, de igual crescimento, agregada a uma engrenagem, símbolo universal do trabalho. O monumento está instalado onde durante as décadas de 60 e 70 se encontrava o monumento do Relógio de Sol, que com o aumento do tráfego na região foi retirado e seu paradeiro é desconhecido.

Em 1998, Canoas é contemplada com mais duas obras de Vinício Cassiano, na sede do Comando Aéreo foi instada o monumento da “Cuia” em homenagem a amizade e na Praça da Emancipação o cenário muda com a instalação do monumento ” O Futuro”.
Nos anos 2000, as aeronaves tomam conta das paisagens de Canoas, três são instaladas na sede da Base Aérea, uma no acesso ao viaduto da Rua Augusto Severo e outra no Campus da Ulbra. Junto a entrada do Comando Aéreo também foi instalado um monumento de ferro em homenagem ao ” Centenário do voo do 14-Bis.
O Marco Soroptimista em homenagem aos 20 anos da Fundação do Clube Soroptimista e o Marco Rotatório do Rotary Clube de Canoas são instalados no bairro Marechal Rondon.

Seis bustos são instalados no munício, a professora Dona Mocinha foi homenageada na praça que também leva seu nome no Bairro Niterói, o do arquiteto Fioravante Milanez foi fixado no Largo da Antiga Estação de Trem, do Henrique Wittrock em frente a sua residência na Rua Domingos Martins, o do Juiz Lenine Nequete exposto na entrada do Fórum da cidade, o de Hugo Simões Lagranha, obra em aço de Pedro Girardello, está à frente da Casa dos Rosa e por último o do Coronel Aviador Alfeu de Alcântara Monteiro, instalado em 2015, em um espaço próximo a alça de acesso do primeiro viaduto sentido capital -interior, ao qual foi depredado e retirado do local.
Poder-se-ia inserir nessa lista, outras várias manifestações artísticas e arquitetônicas que podem ser vistas como monumentos, como a pira simbólica da Praça da Bandeira, o viaduto de pedra da Fazenda Guajuviras, a Fonte Dona Josefina, os bancos em mosaicos do Largo da Inconfidência, a Ponte de Ferro sobre o Rio dos Sinos, as Ginastas do Parque dos Rosas, o mastro de bandeira de 35 metros, entre outros.

Conclui-se que o município de Canoas tem um considerável acervo de esculturas criadas pela iniciativa da administração do poder público, alguns com a colaboração de empresas privadas, percebe-se também que todos esses monumentos citados carecem de manutenções qualificadas e restaurações, visto serem atingidas pelas intempéries do tempo. Embora, parte da população não se sintam representadas por esses patrimônios públicos, os mesmos foram criados por artistas que colocaram suas imaginações nas suas construções e ainda assim pode extrair desses elementos, como fontes históricas, excelentes projetos didáticos e pedagógicos no campo da arquitetura, história e cultura.

Cabe a sociedade decidir, se seus monumentos merecem ou não um olhar mais atencioso, participar de fato no planejamento de futuros cenários dentro do assunto, pois perdidos no espaço, não dialogam com aquilo que representam, e cobrar efetivamente dos órgãos responsáveis suas devidas manutenções e conservações conforme legislação de proteção ao patrimônio histórico.

 

Alguns monumentos na cidade de Canoas

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Uma Resposta

  1. O Busto do Cel Alfeu Monteiro foi vandalizado e não teve restauro,do monumento ao Pinto Bandeira na Estância Velha,publiquei artigo no Aldeia,reproduzido no O Timoneiro edição de 5 a 11 de maio.

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