O meu sabiá das madrugadas é como eu, ruim de cantada, mas esforçado, sabiá que canta tardiamente não acasala. Ele começa muito cedo, mais uma semelhança comigo, é perseverante, não desiste nunca. E, principalmente, é esperançoso, vai à luta faça sol ou faça chuva. O emplumado não é fraco, mas não dá sorte com as sabiazinhas. Talvez, o sabiá tenha muito cantoria e pouca lábia.
Mas o persistente sabiá está molhado, ele é oriundo do Mato Grande e lá a água não para, vem de cima e vem de baixo. Foram anos de abandono, a transição do rural para o urbano não foi bem-feita.
Algo ficou pelo caminho, mas que caminho?
Os moradores do Mato Grande não têm mais caminhos, aliás, só se for o caminho das fétidas águas que insistem em transbordar, alagar ruas e entrar nas casas. E não é devido às enchentes atuais, o Mato Grande está como o sabiá cantador, canta, grita, chora.
E a solução não vem.
Tenho acompanhado a tristeza do flagelo do “Matão”, como é chamado o abandonado bairro. Um bairro que já foi ruralmente pujante, e ainda seria não fosse o abandono público em que se encontra. Falam em planos de milhões há anos e nada é feito.
Quando não está chovendo, nada se faz, prevenção nem pensar.
Os moradores clamam por soluções e apontam caminhos, mas os governantes só ouvem quando o caos já está instalado. Algo precisa ser feito, e é urgente, chega de tapar o sol com a peneira.
Agora estão lá, levando e trazendo as pessoas de van para o trabalho e os alunos para as escolas. As principais ruas estão interditadas, mas mesmo assim, motoristas de caminhões pesados desobedecem e passam jogando água podre para dentro dos pátios e casas.
Depois não sabem porque os hospitais, UPAs e UBSs ficam lotados, não existe saúde que resista a umidade, frio, vento e todos os tipos de intempéries. E lá, no piscinão do Matão, as coisas estão terríveis, é andar, literalmente, no esgoto.
Já foram relatados, animais peçonhentos e perigosos em meio aos alagamentos.
Hoje teremos mais um dia difícil, a chuva deu uma trégua, mas não esperem que a água baixe. O vento mudou e represará os rios, podem colocar mais bombas, não irá adiantar, a água irá retornar.
Até quando irá esse abandono?
São muitos governos, pessoas sem o direito de ir e vir, carros, casas, plantações e vidas destruídas pelo descaso público. O Mato Grande é o patinho feio de Canoas, era muito melhor quando era rural, mas foi urbanizado, e onde isso é feito sem planejamento acontece o que está acontecendo agora e desde sempre. ABANDONO PÚBLICO.
É preciso ir lá, planejar com quem sofre, reuniões em gabinete não adiantam, nos escritórios estão todos secos e com saúde. Enquanto isso, o bairro completamente abandonado clama por soluções que nunca chegam.
Prioridade é o nome da ação.
Ou vão ficar como o sabiá de minha janela?
Que muito canta e nada resolve, vai ficando para trás de quem realmente vai atrás de soluções permanentes.
2 Respostas
E bem isso que ocorre no Mato Grande. Matéria que reflete a situação vivida pelos moradores.