Estamos chegando há um ano que ocorreram as enchentes que destruíram o lado oeste de Canoas e deixaram famílias destruídas e sem ter onde morar, foram 31 vítimas levadas pelas águas de maio, justamente no mês das mães. E hoje trago uma reflexão escrita no dia 11 maio de 2024.
É importante relembrar para não repetirmos os mesmos erros do passado, as mães que perderam seus entes querido fica meu abraço e espero que hoje estejam conseguindo superar a dor de suas perdas.
Já falei em outros artigos, sou um filho das enchentes, meu pai Seu Vilmar era militar e designado para as capitanias que guardavam as fronteiras do Brasil com o Uruguai e a Argentina. Seu relacionamento com minha mãe, dona Ione, começou no interior de Uruguaiana, mais precisamente na Barra do Quaraí. Desta relação, resultaram seis filhos, dois em cada localidade onde existiam as tais capitanias fronteiriças.
Das tempestades que me lembro, uma eu era muito criança ainda, mas a mãe conta que ficou vários dias conosco em baixo de uma lona dentro de um banheiro, a única coisa que restou da casa após uma tormenta de vento e chuva. Minha mãe é uma heroína das enchentes e, ela, enfrentou muitas. Lembro bem, a mãe era quase uma enfermeira das enchentes dos ribeirinhos em Uruguaiana. Dona Ione, recordo bem, era a única que dava injeção nas pessoas no lugar onde vivíamos. Aquelas agulhas amedrontadoras de metal, que eram fervidas em latinha de metal para esterilizar a cada aplicação, chego me arrepiar quando penso, tomei muitas.
ENCHENTE E AS MÃES DE CANOAS
Mas é sobre as mães de nossa enchente que quero falar, das desafortunadas que tudo perderam. E, ainda tem suas perdas expostas em redes sociais desrespeitosamente, essas mães merecem respeito e empatia.
Muitas delas são muito mais fortes do que imaginamos, elas estão na linha de frente procurando seus filhos e, mesmo assim, param a todo momento para ajudar quem está em abrigos ou casas de amigos e parentes. Todos deveríamos pouco da cada uma dessas mães, realmente, não sei de onde tiram tanta força, sinto-me um micuim perto do tamanho delas.
A falta de humanidade com as mães de uma tragédia é um reflexo da insensibilidade, da crueldade e da falta de empatia por parte de indivíduos ou grupos diante do sofrimento alheio. Deveriam saber os impactos causados, principalmente, em situações de tragédias, desastres ou eventos traumáticos, as mães muitas vezes são impactadas de forma intensa e profunda, enfrentando perdas, dor emocional e desafios significativos.
Antes de publicar algo, pense, quantas mães que estão passando por uma situação de tragédia são tratadas com falta de humanidade. Devemos expor, sim, compaixão e apoio.
A guerra de egos, que pouco respeita, deveria tomar consciência que a falta de empatia pode resultar em desrespeito à dor e ao luto das mães, invalidando suas emoções e minimizando sua experiência de perda.
Chegamos em um ponto que o sensacionalismo se sobrepôs, em alguns casos, ao respeito ao próximo, casos que deveriam ser respeitados e pensando nas pessoas, que são expostas de maneira irresponsável.
Para que isso?
Talvez, para lucrar com uma tragédia terrível, sem considerar o impacto social que isso pode causar.
A sociedade deveria, e a grande maioria acho que está, prestar apoio, assistência e solidariedade e não deixar as mães em uma situação de desamparo e isolamento, agravando seu sofrimento.
Diante da falta de humanidade de alguns com as mães de uma tragédia, devemos promover a empatia, a compaixão e a solidariedade como valores essenciais para lidar com o sofrimento alheio. Oferecer apoio, respeito e compreensão às mães que enfrentam situações traumáticas.
É fundamental para promover o acolhimento, a recuperação e o bem-estar emocional dessas pessoas em momentos tão difíceis. Assim como minha, aquela que falei acima, que hoje com 88 anos, está acolhendo gente dentro de seu apartamento, pensando no bem maior.
AS MÃES DA ENCHENTE TÊM MEU RESPEITO E EMPATIA.
Reflexão do dia:
Quando uma mãe perde um filho, todas as mães perdem um pouco também…
… pensem nisso!
RELEMBRE OUTRAS ENCHENTES
Canoas, suas canoas e suas enchentes
De Edison Barcellos
O município tem em seu nome, o meio de transporte utilizado para navegar nos rios. Embora cercado pelos Rios dos Sinos e Gravataí, e Arroios Sapucaia e da Brigadeira, sua origem se dá muito por conta de um desastre natural, que assolou seu território, pelo menos três vezes em proporções alarmantes, as enchentes. A primeira, a inundação de 1873, atingiu toda região metropolitana atual e capital. Conforme os anais da Câmara, essas zonas ficaram submersas, atrasando assim a construção da estrada ferro, que cortava a Fazenda Gravataí, ligando Porto Alegre e São Leopoldo.
Desta catástrofe, surgiu, de acordo com depoimentos publicados na obra de João Palma da Silva, o primeiro nome referenciando a estação que fora construída. Sua menção devido à construção de algumas canoas, que foram utilizadas e depois com o baixar das águas, abandonadas próximo de um capão. Surgindo assim a origem do Capão das Canoas.
A segunda enchente que atingiu Canoas, já emancipada, foi em setembro de 1941. Diante dela, a administração municipal decretou a transferência dos moradores residentes nos locais alagadiços para uma área mais saudável, que eram as terras mais altas da cidade, de propriedade de Décio Rosa. Vale lembrar que em 1931, ainda como distrito de Gravataí, foram autorizados a criação de loteamentos em terrenos da várzea junto ao Rio Gravataí. Essa área, caracterizada por um terreno classificado como prado úmido, sujeito ao fenômeno de enchentes periódicas, originou os Bairros Niterói, Industrial e Rio Branco. Nos anos de 42 e 43, o poder público decretou a construção da Vila Popular Mauá, um projeto arquitetônico e urbanístico do engenheiro Rui Viveiros Leiria, que por questões politicas e desacordos, ficaram no papel, o que ocasionou frustrações nos moradores atingidos pelos problemas das enchentes.
A terceira enchente assolou a década de 60, e fez com que a administração municipal, tomasse como prioridade, criar uma estratégia que sanasse o problema das inundações. Para isso foram construídos diques de contenção, nos bairros que faziam limites com os Rio Gravataí e dos Sinos e instaladas casas de bombas para transbordo. Essa medida já era noticiada pela imprensa local, da época desde 1949, mas só se tornou realidade, a partir da década de 70. A partir dessas medidas, diminuiu, de certa forma, a fragilidade que os moradores das áreas atingidas pelas enchentes sofriam. Para isso, era necessário manutenções periódicas nos equipamentos e uma conscientização da população em relação ao descarte de lixos em via públicas.
Além dessas medidas, foi decreta uma lei que não permitia construções de prédios para residências sob o dique de contenção e em área entre os diques e os rios dos Sinos e Gravataí, não sendo liberado licença para as mesmas, o que, em grande medida, não se confirmou. As áreas que foram desapropriadas para a construção dos diques de contenções foram ocupadas para construção de residências, ainda na década de 70, formando nesse local núcleos suburbanos irregulares. As enchentes atuais ainda atingem o município, a Praia do Paquetá, ainda sofre com as inundações, em destaque a enchente de 2015, com a região ribeirinha tentando proteger-se com sua arquitetura de casas palafitas.
Edison Barcellos da Rosa
Historiador e pesquisador
Uma Resposta